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Edição Jornalística – PUC Minas

Saúde

Cobertura vacinal no Brasil tem pior índice dos últimos 5 anos

VACINAÇÃO | Desde 2018 o país não atingiu nenhuma meta do calendário infantil

Por Bruna Bentes e Marina de Oliveira

“Vacinou, é gol. Vamos vestir a camisa da vacinação infantil”.

Eram esses os dizeres de um cartaz da campanha de 2010 do Zé Gotinha, personagem publicitário que virou símbolo da Campanha de Imunização. No cartaz, o personagem aparece abraçado a sete crianças, todos usando a camisa do Brasil. Todos sorrindo, apelando para o tema que mais chama atenção do brasileiro, o futebol, para conscientizá-lo da importância da vacinação.

Campanha de vacinação de 2010

De lá para cá, o apelo das campanhas de vacinação caiu muito. O Zé Gotinha perdeu aquele jeito de animador de festa e ganhou mais um aspecto fantasmagórico, como se fosse uma lembrança de uma campanha calorosa e efetiva, que não tem tanta força mais.

Essa diferença da força das campanhas publicitárias se confirma no depoimento de Camila Martins Costa, enfermeira PSF (Programa Saúde da Família) da Prefeitura de Belo Horizonte: “Eu vejo uma falta de divulgação do Ministério da Saúde. Hoje em dia as campanhas não são tão divulgadas como era antigamente. Quando eu era pequena, tinha o Zé Gotinha, a campanha de vacinação era sinônimo de festa. E, com o tempo, a divulgação piorou e eu acho que o Ministério não tá trabalhando tanto na divulgação de campanha”.

Panorama

O ano de 2019 se encerrou com um surto notificado de sarampo, os casos triplicaram por todo o território nacional. Por isso, este ano, o Ministério instaurou uma nova campanha de vacinação, destinada a pessoas de 20 a 49 anos, para reforçar a imunidade e controlar a disseminação da doença, que estava erradicada até 2018. A Campanha se encontra na sua 4ª fase, por não ter atingido a meta de cobertura até então e ter contaminação ativa em quatro estados e casos em 21.

Em 29 de setembro de 1994, o Brasil recebeu da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) o certificado de interrupção da transmissão dos vírus selvagens da poliomielite no país. Até outubro deste ano, apenas 5% das crianças estavam vacinadas, sendo que a meta é 95%, segundo o Ministério da Saúde. A queda do número de crianças imunizadas é intuitivamente preocupante.

Camila também pontuou: “Tem 8 anos que eu trabalho na atenção primária e eu vejo que a cada ano que passa a cobertura vacinal tem caído. Eu não acho que é a pandemia que causou a queda de cobertura vacinal, ela pode ter agravado, mas isso já é um problema crônico que já tá vindo de alguns anos.”

Sistema de Informações do Programa Nacional de Imunizações

Dificuldades

O Programa responsável pela imunização da população no Brasil é dos mais amplos e bem sucedidos do mundo, resultado da combinação da abrangência do Sistema Único de Saúde, o SUS, presente em todos os municípios do país, o único com mais de 100 milhões de habitantes com um sistema de saúde público, universal e gratuito. 

Porém, desde 2015, os índices da cobertura vacinal começaram a cair. Em um país com extensão territorial como o Brasil, é muito importante políticas integradas para não perder a “cultura da vacina”.

Conforme Camila Costa, além do enfraquecimento das campanhas, a população não busca por vacina de forma espontânea, de acordo com ela, por não temer mais essas doenças que “desapareceram”. Porém, elas “desapareceram”, justamente, por conta de uma cobertura vacinal satisfatória, que precisa ser mantida para que surtos e epidemias não voltem a acontecer.

Efeito Bola de Neve

Yasmin Blanco, mãe do Jorge de 4 anos, moradores de Belo Horizonte, comenta considerar a vacinação no Brasil satisfatória, mas que nem todas as vacinas essenciais para o desenvolvimento primário são ofertadas pelo SUS, e que todas que seu filho tomou foram pelo sistema público.

Importante ressaltar que durante a entrevista ela cita que uma das vacinas que Jorge, seu filho, não recebeu foi a de sarampo. Questionamos se ela sabia da campanha ativa, e ela disse que não, que não estava sabendo, mas que iria procurar. 

Além disso, outros elementos colaboram para a redução do alcance das vacinas. Os postos de saúde funcionam no horário comercial, tornando impraticável, para uma pessoa que trabalha dentro desse horário, o deslocamento para se vacinar. Além disso, o movimento antivacina, iniciado nos Estados Unidos e popularizado em vários países europeus, já é uma realidade brasileira.

Associado ao descontrole de notícias falsas e com a quarentena imposta pela pandemia, sem uma campanha forte por parte do governo, retomar os índices da cobertura vacinal se torna uma tarefa difícil. Ainda que paliativo, o Programa Nacional de Imunização do Sistema Único de Saúde vem tentando, desde 2015, promover capacitação e engajamento para recuperar as estatísticas, além de um número para desmentir notícias falsas.



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