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Edição Jornalística – PUC Minas

Economia

Transporte rodoviário de cargas cai 40% com pandemia

Queda da demanda preocupa e agrava situação financeira de empresas ligadas ao setor. NTC&Logística e FGV Transportes mostram cenário de prejuízo e pessimismo para a logística no Brasil

Felipe Quintella, Paulo Rezende, Lucas Bastos, Fábio Duarte, Bernardo Drummond e Rui Canavarro

Crédito: Divulgação/CNT

A pandemia do novo coronavírus está afetando diversos setores, incluindo o de transporte rodoviário de cargas. As demandas diminuíram em quase 40% no Brasil e em Minas Gerais, segundo representantes da área, e não se sabe quando o prejuízo poderá ser recuperado. São dois extremos: enquanto algumas empresas conseguem contornar bem a crise, outras necessitam recorrer a pedidos de prorrogação de recolhimento de impostos e linhas de crédito para se manterem no mercado.

O transporte de carga é serviço essencial durante a pandemia, o que significa que os caminhões não pararam, porém, o número caiu. A Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística (NTC&Logística) está acompanhando, a cada semana, a demanda de carga em todo o país, desde o início da crise.

No levantamento da semana entre 25 a 31 de maio, o transporte de cargas caiu 39,69% em relação ao período anterior à pandemia. O número já foi maior, no período da semana de 13 a 19 de abril, quando atingiu 45,2% de recuo. A última pesquisa semanal, relevou que 93% das transportadoras perderam faturamento em razão da pandemia.

Os dados. verificados entre 18 e 31 de maio, mostram a divisão que o isolamento social provoca nos setores da economia. A associação monitorou, nesse período, como o coronavírus afetou as entregas. Os shoppings centers foram os principais afetados por serem impedidos de abrir, em 64,6%. A entrega de mercadorias para lojas de rua também foi uma das mais prejudicadas, com baixa de 50,4%. O transporte de carga para mercados e supermercados caiu menos, registrando variação negativa de 25%

Estabelecimentos que continuaram abertos na quarentena demandaram mais transporte do que os que fecharam. (Arte: NTC&Logística)

A pesquisa também analisou o tipo de carga afetado. A indústria automobilística foi uma das que mais sofreu com queda de 56,1%. Por outro lado, o transporte do setor do agronegócio teve uma redução menor (32,3%), assim como a indústria de alimentos refrigerados (-26,6%) e não refrigerados (-30,4%).

Entre os setores, a indústria recebe menos carga que o agronegócio e o comércio. (Arte: NTC&Logística)

A divisão de resultados é notória na prática pelas empresas. A transportadora Lenarge, de Sabará, atende um vasto número de clientes: siderúrgicas, mineradoras, produtores de celulose e de vidro. De acordo com diretor de gente e gestão da companhia, Flávio Freire, isso fez com que a queda da operação não fosse tão elevada. O diretor da transportadora afirma que nunca presenciou uma crise como essa, pela magnitude e imprevisibilidade que vieram junto com a pandemia.

Segundo ele, não foi preciso cortar custos, renegociar contratos ou reivindicar empréstimos para passar pela crise. Já que a empresa estava bem organizada no que diz respeito ao âmbito financeiro. A companhia se viu obrigada a dispensar, temporariamente, os funcionários que fazem parte do grupo de risco da Covid-19 e colocou a área administrativa em trabalho remoto. As férias de alguns colaboradores foram adiantadas. Ou seja, dos 1.100 funcionários – incluindo os 780 motoristas – nenhum foi demitido ou teve o contrato suspenso.

A NTC&Logística calcula que a demanda do setor de transportes em Minas Gerais se desvalorizou 38,6% na demanda geral por transporte rodoviário de carga em maio em relação ao normal. O ramo de transportes do estado não chega perto de ser um dos mais afetados pela pandemia no país. Pernambuco teve o maior impacto em maio, registrou uma queda de 65,6%.

O Sindicato de Empresas de Transporte de Cargas e Logística de Minas Gerais (Setcemg) se mobilizou para conseguir apoio ao setor. A entidade pediu ao governo estadual para prorrogar o recolhimento do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) e negociou uma linha de crédito junto ao Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG). Além de assessoria para os associados, a respeito de como se inserir nas medidas anunciadas pelos governos, como a Medida Provisória 936, do governo federal, que se encarrega da suspensão de contratos de trabalho.

No âmbito nacional, as entidades do setor também se motivaram com o objetivo mútuo de conseguir apoio do governo. Segundo a NTC&Logística, a associação colaborou para garantir que as medidas sanitárias para evitar a propagação do vírus fossem respeitadas nas rodovias e nos caminhões, além de negociar para que restaurantes de beira de estrada continuassem funcionando normalmente. A entidade também conseguiu a prorrogação das validades das carteiras e cursos de manejo de cargas perigosas dos motoristas. No Congresso, o setor fica na expectativa que a prorrogação da desoneração da folha de pagamentos seja aprovada.

Panorama pós pandemia

Coordenador da FGV Transportes traça panorama para o setor pós pandemia

Segundo Marcus Quintella, coordenador do Centro de Estudos em Transportes e Logística da FGV Transportes, com a queda acentuada do transporte de cargas, 75% das empresas do setor estão operando no vermelho. Esse quadro pode atrasar o programa de parcerias de investimentos do governo federal, que está sendo conduzido pelo Ministério da Infraestrutura e prevê, entre outras medidas, concessões de rodovias a fim de melhorar a malha rodoviária brasileira.

Devido a isso, Quintella acredita que o panorama pós-pandemia em relação à infraestrutura será marcado pelas deficiências já conhecidas no país, que é dependente do transporte rodoviário. Mesmo prevendo uma retomada lenta e gradual para a demanda do transporte de cargas, o setor que continuará sustentando essa cadeia, será o rodoviário.

Quintella ainda levanta dados que preocupam a retomada da demanda. Atualmente, apenas 12% da malha rodoviária nacional é pavimentada e dentre esses 12%, mais da metade são de rodovias de médio a péssimo estado de conservação. Na avaliação do pesquisador, isso acarretará em uma baixa eficiência de escoamento nos portos, o que pode resultar em uma queda na competitividade de nossos produtos, elevando ainda mais os custos de transporte que já eram altos antes da pandemia.

Para encerrar, o coordenador da FGV Transportes ressalta que o governo federal terá um papel ainda mais determinante para o segundo semestre. Segundo Quintella, será preciso investir muito em infraestrutura para garantir a competitividade do país e atrair recursos estrangeiros, impulsionando assim o nosso desenvolvimento econômico, a geração rápida de empregos e ajudando a eliminar um dos principais gargalos econômicos do país.

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