Covid-19 prejudica o crescimento do futebol feminino
A modalidade, que luta para conseguir espaço e visibilidade, em 2020 poderia dar um salto graças à Copa do Mundo de 2019, mas em meio à pandemia do novo coronavírus, isto se tornou mais difícil
Por Giovana Miroslava, Luana Ferreira e Malu Rabello
(Ali Krieger, zagueira da Seleção de Futebol Feminino dos Estados Unidos e do Orlando Pride, no centro de treinamento do Orlando – Foto: Divulgação/Orlando Pride)
O futebol feminino vem ganhando cada vez mais espaço na sociedade, por meio dos campeonatos nacionais e internacionais. Muitas pessoas se interessaram pela modalidade no ano passado, após a Copa do Mundo de Futebol Feminino, sediada na França, torneio que durou um mês e contou com a participação de 24 times. A atacante do Galo Feminino, Isadora Casagrande, acredita que a competição mundial teve um marketing e uma visibilidade muito grandes.
A Seleção de Futebol Feminino dos Estados Unidos se consagrou campeã mundial pela quarta vez em 2019, o que causou grande impacto na National Women’s Soccer League (NWSL), liga de futebol feminino do país, onde jogam todas as estadunidenses que foram convocadas para a Copa. Desde seu lançamento, em 2013, a Liga, mesmo tendo heroínas das Copas do Mundo, não conseguia atrair a atenção de todos. No ano passado, porém, estrelas como Alex Morgan, Megan Rapinoe, Rose Lavelle, Tobin Heath e Carli Lloyd, atingiram novos patamares de celebridades e atraíram a atenção da mídia para o campeonato, que também conta com as brasileiras Marta e Debinha.
Já no Brasil, um dos campeonatos nacionais mais comentado é o Brasileirão Feminino, dividido nas categorias A1 e A2, que reúnem os clubes profissionais do Brasil. Entre as equipes, se destacam os times paulistas, que dominaram 50% do campeonato brasileiro do ano passado, além de ser o estado onde a modalidade ganha mais visibilidade e espaço nos meios de comunicação. Uma ação inédita e que marcou a história do futebol feminino foi a final do campeonato paulista entre Corinthians e São Paulo, que contou com quase 30 mil torcedores na Arena Corinthians.
No Rio de Janeiro, a situação não é muito diferente. De acordo com a ex meio-campista do Flamengo, Aline Guedes, que agora joga pelo Galo Feminino, o clube possuía várias torcidas organizadas femininas: “A torcida carioca marcava presença em quase todos os jogos, levando faixas e cantando. O Flamengo tinha várias torcidas organizadas femininas. Isto nos motivava muito, a cada vez que entrávamos em campo”.
Por outro lado, em Minas Gerais a modalidade ainda está tentando ganhar visibilidade e o seu espaço, principalmente nos meios de comunicação. Aline ainda destaca que a mídia carioca promove mais incentivo, comparada à mineira:
O número de torcedores nos estádios também é pequeno, comparado com São Paulo e Rio, e isso pode ser justificado pelos horários e lugares das partidas. “Muitas das vezes, eu queria acompanhar os jogos do campeonato estadual, mas eu não conseguia ir, devido aos horários e ao deslocamento. A semifinal da competição, por exemplo, aconteceu em uma quinta-feira, às 16h. No meio da semana e na parte da tarde é complicado para a maioria das pessoas.”, diz a estudante Raphaela Oliveira.
Nos Estados Unidos, a situação é diferente. O Portland Thorns, time mais popular da NWSL, chegou a ter 25.218 pessoas em uma única partida em casa e manteve uma média de público superior a de times do Brasileirão, como o Cruzeiro e Atlético-MG, por exemplo.
Com o crescimento de público e do interesse da população pela modalidade, os campeonatos femininos se preparavam para voltar com tudo em 2020, mas com a disseminação da Covid-19 em todo o mundo, muitos deles sequer começaram.
Situação dos clubes durante a pandemia
A pandemia do novo coronavírus afetou muito o mundo do futebol e, por isso, as atletas precisaram se adaptar para manterem o ritmo, apesar de ainda não haver uma previsão para o retorno dos campeonatos e treinamentos presenciais.
Para não perder o foco, o Galo Feminino, que estava disputando o Brasileirão A2 está realizando videoconferências e reuniões com suas atletas. A jogadora Isadora Casagrande explica como estão sendo realizadas as atividades em casa.
Com a pandemia, o calendário das competições internacionais também sofreu modificações. A pré-temporada da NWSL teve início no dia 4 de março. Uma semana depois, todos os jogos foram suspensos devido à propagação da doença, e o primeiro jogo da temporada, que aconteceria no dia 18 de abril, não aconteceu.
No dia 6 de maio, a Liga anunciou que os clubes poderiam permitir o uso dos campos de treinamento de equipes ao ar livre, para exercícios voluntários das atletas, em horários variados e respeitando o distanciamento social; essa foi a primeira fase do chamado Protocolo de Retorno ao Jogo. No dia 11 de maio, jogadoras do North Carolina Courage, time de Debinha, estiveram em campo pela primeira vez em semanas.
Na segunda-feira, dia 25, os times avançaram para a segunda fase do Protocolo e já puderam começar os treinamentos em pequenos grupos; após 5 dias de treinamento em pequenos grupos, os clubes poderão treinar com a equipe completa. A NWSL reforça que está envolvida em discussões constantes com a equipe médica do Protocolo de Retorno ao Jogo e que cada time precisa seguir as diretrizes federais, estaduais e locais.
A Liga espera conseguir realizar a temporada completa ainda em 2020, com data prevista para o início do campeonato no dia 8 de junho. Contudo, a NWSL sabe das dificuldades e diz estar estudando todas as opções possíveis.