Cine Belas Artes: o cinema em sua essência
Conheça um dos cinemas de rua mais tradicionais de Belo Horizonte
Filipe Soares, Gabriel Ramos, Guilherme Couto, Guilherme José, João Felipe Marques, Pedro de Lima e Thomaz Cruz
O UNA Cine Belas Artes não só revive memórias em quem passa por lá, como é parte da história de Belo Horizonte. Como um dos únicos cinemas de rua que permaneceram na capital, ele foi inaugurado nas antigas dependências do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da UFMG em 1992, teve sua existência ameaçada na pandemia, quando se viu obrigado a fechar por meses.
Aliado a uma parceria com uma empresa privada, o cinema testemunhou o empenho de seu público em mantê-lo vivo por uma campanha de financiamento coletivo muito bem-sucedida, que bateu a meta inicial de arrecadação. O espaço, então, pôde se reerguer também com o apoio do Centro Universitário UNA.
Essa ligação entre os dois espaços também estendeu as atividades de extensão relacionadas à UNA e, em particular, ao campus Liberdade, com o curso de Cinema. Por essa parceria e por meio de melhorias técnicas, e reparos estruturais, o Cine Belas Artes voltou às atividades no segundo semestre de 2021, bem a tempo do seu aniversário de 30 anos de existência, no ano seguinte.
Criada no site Benfeitoria, a campanha SOS Belas Artes arrecadou R$ 120 mil em dois dias. O valor foi doado por cerca de 1.300 pessoas e correspondeu a mais de 60% da meta inicial prevista para um mês, que era de R$ 200 mil.
Segundo o diretor de programação do Cine Belas Artes, Adhemar Oliveira, exibir filmes independentes de diferentes regiões foi um dos motivos que fizeram com que a campanha SOS Belas Artes tenha recebido doações não apenas de moradores de Belo Horizonte, mas de todos os cantos. “O Cine Belas Artes ficou conhecido por dar guarida a filmes independentes brasileiros e internacionais. E tudo isso independentemente dos resultados que eles possam ter. É a vocação do cinema”, destaca.
Mas essa característica não foi suficiente para impedir as dificuldades financeiras. De acordo com o diretor, se já estava complicado antes, a pandemia tornou tudo ainda mais difícil, “principalmente porque não trabalhamos com delivery”, brinca Adhemar.
Diferentemente dos cinemas de shoppings ou serviços de streaming, o Belas Artes oferece uma programação que prioriza títulos independentes, promovendo a diversidade cultural nas telas, com filmes que muitas vezes não estão inseridos no circuito comercial. O complexo conta com três salas de exibição, bem como serviços de cafeteria e livraria, criando um espaço único, recheado de histórias e momentos.
Para o jovem João Vitor, visitar o Belas Artes é como reviver a cultura do cinema em sua essência. “É uma conexão incrível, até pela história do local, totalmente diferente de assistir a um filme em um shopping”, relata o estudante de 22 anos. Ele conta ainda que, frequentar o local despertou sua paixão pelo cinema, em especial pelos filmes nacionais, que são constantemente exibidos no local.
O valor dos ingressos também chama atenção, no UNA Cine Belas Artes o preço varia conforme o dia da semana, com média abaixo das salas dos grandes centros comerciais:
Segunda, terça e quinta: R$ 18,00 (inteira) e R$ 9,00 (meia);
Quarta: R$ 16,00 (inteira) e R$ 8,00 (meia);
Sexta a domingo e feriados: R$ 22,00 (inteira) e R$ 11,00 (meia).
Entre dezenas de cinemas perdidos pelas ruas, fechados ao longo dos anos em paralelo ao crescimento exponencial das salas em shopping centers, o UNA Cine Belas Artes pode ser visto como um símbolo de resistência, oferecendo experiências únicas, além de um conteúdo diferente dos grandes centros, tudo isso por um preço mais acessível, o que atrai não somente seus fiéis clientes, mas também pessoas das mais diferentes classes sociais, tornando-se único no coração de Belo Horizonte e de toda sua população.
É o cinema vivo, que nasceu e permanece na rua, criando momentos no imaginário de quem passa por lá. Uma experiência difícil de igualar atualmente, um ambiente com alma própria que existe e resiste em um cenário que, apenas teoricamente, talvez não lhe pertença mais.