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“Monkeypox é uma epidemia dentro de uma pandemia”, afirma virologista

Jordana Coelho diz que o fato de a transmissão comunitária ser uma realidade já pode ser considerado epidemia

Por Carlos Gabriel Paiva, Cler Santos, Letícia Souza, Luis Guilherme Arcanjo, Milena Amorim e Victória Carvalho

Minas Gerais já apresenta transmissão comunitária para a varíola dos macacos. A doença, que foi transmitida aos humanos por meio de um vírus que circula entre animais, já tem casos detectados no estado. De acordo com a virologista e professora adjunta do Departamento de Microbiologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Jordana Coelho, “o monkeypox é uma epidemia dentro de uma pandemia” devido à transmissão comunitária.

A varíola dos macacos chegou a níveis de transmissão comunitária em Belo Horizonte. Na capital, já foram confirmados 174 casos de monkeypox e, no restante do estado, são 221, de acordo com o último boletim epidemiológico (24/08) da Secretaria Estadual de Saúde (SES-MG)

SES-MG/Reprodução

O status da varíola do macaco no Brasil é de transmissão comunitária, o que significa que o vírus já infectou pessoas que não viajaram nem tiveram contato com quem esteve em países onde há surto da doença. Nesse cenário, alguns cuidados devem ser redobrados não só no dia a dia, como também nos serviços de saúde. Belo Horizonte já está nessa fase há mais de um mês, desde que o terceiro caso sem contato com estrangeiros foi confirmado no dia 13 de julho.

“Muitos pontos ainda são desconhecidos sobre a varíola dos macacos. Um exemplo seria o fato de não haver estudos se o vírus da monkeypox só pode ser transmitido se a pessoa apresentar sintomas”, questiona Jordana Coelho.

Epidemia dentro de pandemia

A pandemia da Covid-19 está controlada, devido ao avanço da vacinação. Porém, de acordo com o último boletim da Organização Mundial da Saúde (OMS), nesta quinta-feira (25/8), mais de 41 mil casos e 12 mortes por varíola dos macacos foram relatados em 96 países. A maioria dos casos se concentra nos Estados Unidos. O alto número de registros já configura uma epidemia, declarando “surto uma emergência de saúde global” em julho deste ano.

“Mesmo com a pouca quantidade de pessoas internadas, e com a baixa taxa de letalidade, é uma epidemia extremamente preocupante. Por enquanto sabemos dessas informações, mas, com o aumento do número de infecções, tudo pode mudar. Os estudos estão avançando, mas a doença também”, alerta Jordana.

Vírus e mutação

A virologista explica que a varíola dos macacos é um vírus completamente diferente do coronavírus: “ O Sars-Cov2 é um vírus de RNA, enquanto a varíola dos macacos é um vírus de DNA, portanto, é muito mais estável e não veremos aquele quadro de variantes como vimos para a COVID-19”.

Coelho aborda também que há estudos dos filos de DNA do vírus sobre as linhagens espalhadas pelo mundo, provando que o monkeypox pode mudar, mas não de forma significativa.

Casos de reinfecção

A princípio, não há registros de reinfecção de varíola dos macacos pelo mundo, porém, os especialistas não descartam essa possibilidade“. Já fomos enganados uma vez pela Covid-19, não podemos repetir. Mesmo que as reinfecções do coronavírus sejam justamente pela sua alta capacidade de mutação”, afirmou a professora.

De acordo com ela, não há expectativa de processos como esses. Entretanto, quando é feita uma análise do perfil dos pacientes que estão se infectando com varíola dos macacos, a maioria são indivíduos imunocomprometidos.

Sobre varíola dos macacos

O vírus pode infectar qualquer pessoa, de crianças a idosos, basta o contato com a secreção proveniente das bolhas causadas pela infecção, assim como o compartilhamento de objetos com pessoas infectadas ou mesmo o contato com a secreção de animais infectados. A transmissão do monkeypox também é possível de mãe para filho durante a gestação.

Os sintomas são clássicos: febre, dores no corpo, dor nas costas, cansaço, calafrios e feridas na pele.  De acordo com estudo mundial realizado no Reino Unido e publicado no periódico científico BMJ,  a probabilidade do crescimento contínuo nas populações mais vulneráveis é grande e muitas implicações ainda não são compreendidas.

A Secretaria recomendou que, por  ser uma doença com potencial ainda desconhecido, o ideal é que pessoas suspeitas pelo vírus Monkeypox evitem o contato direto com cães, gatos ou outros animais, mesmo que sejam domésticos.

Ainda é cedo, mas estuda-se que o vírus da varíola seja parecido com o vírus da varíola dos macacos e que, possivelmente, medicamentos e vacinas podem ser utilizados para proteger e tratar a doença.

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