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A base da pirâmide no mundo da música: os prós e contras de um novo mundo de oportunidades

O impacto do mundo digital, das redes sociais e do streaming na vida dos músicos que ainda buscam por uma carreira de sucesso e tentam se firmar como artistas solo ou integrantes de bandas reconhecidas

por Matheus Pacheco

Cantores e bandas independentes buscam a ascensão no mercado musical e uma das principais dificuldades que encontram são dois fatores: tempo e dinheiro. Devido a isso, parte desses músicos têm que se sustentar com trabalhos paralelos para manter vivo o sonho de ser um grande artista.

A música em si ainda é subvalorizada. É difícil encontrar lugar para tocar, é difícil ser contratado. O dinheiro que comanda o mercado da arte pouco corre no meio independente.

Atualmente existem vários fatores que afetam essa indústria e a tornam mais fragmentada e disputada do que nunca. O acesso aos serviços de streaming, como Spotify e Deezer, além da utilização de sons para a produção de vídeos em outras redes sociais, como TikTok e Instagram, influencia diretamente no andamento da música.

Acessibilidade e competitividade: a influência da internet na carreira musical

Sofi Ribeiro, cantora solo que está prestes a lançar o seu primeiro projeto musical, ressalta a importância das redes sociais na música atualmente: “Muito grande. Não só pra eu entender onde eu me encaixo, se tem um nicho na internet que faz sentido pra mim, mas até em tema. Um dos temas sobre o qual eu escrevi no meu EP é justamente a influência de uma geração que já nasceu mergulhada nesse contexto de influência e redes sociais”, disse a cantora.

É fato que o mundo musical se torna cada vez mais acessível a todos, mas, por consequência, fica muito mais competitivo. As redes influenciam positivamente na divulgação e distribuição da música para além da sua bolha, fora da sua cidade, e te ajudam a encontrar pessoas que gostam do seu trabalho.

“Na década passada, se o artista não tivesse o apoio de uma gravadora dificilmente seria possível se lançar e se manter em uma grande escala. A chegada do Youtube e Spotify tornou isso muito mais fácil, vários artistas começam com um trabalho independente e conseguem se manter apoiados pelos serviços de streaming”, respondeu Juliana Ravagnani, supervisora de conteúdo na Eventim Brasil.

Álbuns que antes levavam meses para serem disponibilizados, agora em apenas um clique estão online para o mundo todo. Hoje, os artistas podem conectar suas produções com lojas mundiais ao redor do mundo e também com plataformas de streaming, como o Spotify. O mercado musical não é mais controlado por grandes produtoras, qualquer um pode produzir e ter contato com múltiplos ouvintes.

O desafio de sustentar um projeto com o baixo retorno financeiro dos streamings

Por mais que esses aplicativos tornem o trabalho de um músico universal, os pequenos produtores recebem cada vez menos por suas produções e o problema só aumenta. Streamings repassam os pagamentos para as gravadoras, que por sua vez pagam os artistas. E, historicamente, as gravadoras sempre ganharam valores altos em relação aos seus talentos. 

Gerar um simples dólar com o seu trabalho por meio de streamings de música se torna uma tarefa complicada, dada a remuneração repassada para um artista quando seu trabalho é escutado por alguém que usa alguns dos aplicativos. Segue uma lista de quanto cada plataforma paga por reprodução:

  • Apple Music: $0.01
  • Amazon Music: $0.004
  • Tidal: $0.013
  • Spotify: $0.0033
  • YouTube Music: $0.008
  • Pandora: $0.0013
  • Deezer: $0.0064

Ana Cecília, guitarrista da banda Sorry We’re Late intensifica como o despreparo da maioria dos artistas para lidar com as principais plataformas prejudica o trabalho de divulgação de todo um grupo:

“Apesar de termos disponibilizado todo nosso trabalho nas principais plataformas, percebemos que ainda não temos know-how suficiente para administrar nossa página em outras plataformas que não o Spotify. Então, sim, essa fragmentação dificulta a divulgação, porque acaba que toda a nossa dedicação acaba sendo direcionada a uma plataforma específica em detrimento das outras”, testemunhou a guitarrista.

Ana Cecília (guitarrista) em apresentação durante a Sorry Fest em Belo Horizonte

Mesmo que o mercado musical tenha se tornado mais aberto aos novos artistas, foi exatamente isso que o tornou cada vez mais competitivo e dependente dos mesmos fatores que o tornaram mais acessível: internet, redes sociais e streamings.

Vida dupla: trabalhar para sustentar o sonho musical

A realidade de muitos artistas que estão na base da pirâmide do mercado da música ainda é ter outra profissão para manter a renda e continuar com o sonho de se tornar um músico de sucesso no futuro.

“É importante também enxergar a música como um trabalho, que toma tempo e energia. A minha relação entre trabalho e música é como uma simbiose, os dois vivem juntos, um sustenta o outro e ambos recebem benefícios em consequência disso”, disse Ana Cecília quando questionada sobre como é se dividir entre duas profissões.

Muitos também optam pelo apelo ao público e realizam vaquinhas online para bancar seus projetos musicais. Esse é o caso da Sofi Ribeiro, que recentemente lançou a campanha “Sofinanciamento” para arrecadar recursos que possam pagar os custos de produção do seu trabalho, como: artistas visuais que estão fazendo as capas do EP e do primeiro single, masterização, distribuidora, diárias no estúdio etc.

Publicação de Sofi Ribeiro para arrecadação de recursos para a produção do seu EP

São vários os profissionais que passam por uma produção musical, portanto o custo de um grande projeto se torna um empecilho para os pequenos artistas que buscam crescer e subir um degrau na indústria. A opção que sobra é financiar tais projetos com a renda gerada pelo seu trabalho e com a ajuda de amigos e apoiadores.

A influência do gênero musical na carreira 

Muitos artistas consideram e fazem uma virada brusca em sua carreira musical alterando o gênero em que eles trabalham, visando uma aceitação e mais oportunidades de mercado.

Sertanejo, forró, samba e funk são tipos de músicas que geram mais oportunidades pelo Brasil, o que é intensificado de acordo com a região. Tais características geram a dúvida em artistas de outros nichos se vale a pena migrar o seu gênero para optar por algo que esteja mais em alta.

“O ideal acaba sendo o meio do caminho. Acho que pra mim é mais importante ser autêntico do que original. Se a música que eu faço não é tão diferente do que já existe, mas eu puder tocar alguma pessoa com a minha verdade, eu já tô mais que satisfeita”, disse Sofi Ribeiro quando questionada sobre continuar no seu ritmo preferido ou optar por um gênero musical em alta.

Sofi Ribeiro, durante a gravação do seu primeiro EP

Alguns artistas optam por se manter em um estilo no qual acreditam ser o seu lugar e esperar pelo momento em que sua música vai estar em alta, o que é o caso de Ana Cecília com a recente alta do pop punk ao redor do mundo.

“Gosto muito de seguir meu coração, mas acho que dei sorte porque meu gênero preferido está em alta agora. Muitos artistas de gêneros completamente diferentes que se reinventaram surfando na volta do Emo/Pop Punk e muitas bandas antigas estão voltando à atividade. Eu acho isso muito legal, porque fico à vontade nesse gênero, então é como pegar dois coelhos com uma cajadada só, agradando ao público e a mim mesma”, disse a guitarrista.

A visão de quem organiza eventos para pequenos artistas 

É fato que festivais de música atraem milhares de pessoas. Lollapalooza, Planeta Brasil e Rock in Rio são exemplos de eventos que têm uma longa lista de atrações e boa parte delas é composta por artistas pequenos que levam tais ocasiões como a oportunidade da vida.

O Rock in Rio, por exemplo, abriu o “Espaço Favela”. O intuito da iniciativa é dar espaço aos artistas de menor expressão e reunir a diversidade das comunidades, segundo os produtores do evento.

Juliana Ravagnani, supervisora de conteúdo na Eventim Brasil desde 2018, aborda a utilização de pequenos artistas para a realização de grandes eventos e comenta sobre o tratamento que é dado a tais músicos de menor expressão em festivais:

“A complexidade é diferente, um artista maior exige uma equipe maior, um planejamento grande e mais adequado. Um artista menor exige uma equipe menor, o planejamento não é tão complexo e são eventos de casas menores”, confessa Juliana.

Atualmente, observa-se uma onda cada vez maior de artistas independentes ganhando destaque em grandes festivais ao redor do Brasil. Juliana aponta que essas portas abertas para pequenos músicos são algo cultural e têm se tornado comuns na realização de eventos de grande porte:

“Vejo cada vez uma tendência maior de artistas pequenos em grandes eventos. Vários festivais estão acontecendo e esses artistas têm a oportunidade de tocar em eventos grandes e conseguir a visibilidade desses festivais. Os próprios curadores querem colocar artistas novos por fazerem parte de uma cultura”, afirmou a supervisora.

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