DESMATAMENTO NA AMAZÔNIA REDUZ VOLUME DE CHUVAS E AMEAÇA AGRONEGÓCIO BRASILEIRO
Em artigo publicado mês passado, pesquisadores destacam impactos do desmatamento na periodicidade das chuvas e preveem prejuízos de US$ 1 bilhão anuais para o agronegócio até 2050
Por Carlos Eduardo Noronha e Matheus Sampaio
O desmatamento na região amazônica continua batendo recordes em 2021 e seus impactos podem gerar consequências expressivas – tanto para a floresta quanto para o agronegócio brasileiros –, aponta pesquisa realizada pelo Centro de Sensoriamento Remoto da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em parceria com a Universidade Federal de Viçosa (UFV) e a Universidade de Bonn, na Alemanha. De acordo com o artigo, publicado mês passado, a tendência é de que o agronegócio tenha prejuízo de até US$ 1 bilhão (equivalente a R$ 5,7 bilhões) por ano, até 2050. Isso se os níveis de desmatamento continuarem no mesmo ritmo que estão.
A Amazônia ocupa uma área total de 7.584.421 Km2 distribuída por nove países: Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Guiana Francesa, Peru, Suriname e Venezuela. A porção brasileira é de 5.033.072 Km2 – 3.650.000 Km2 só de floresta contínua, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA). Contudo, o que deveria ser preservado como patrimônio mundial da humanidade está ameaçado pelo desmatamento exposto em recordes diários na paisagem, que rapidamente vai se modificando aos olhos das 17 milhões de pessoas que vivem na região.
Argemiro Teixeira Leite Filho, professor e engenheiro florestal coordenador da pesquisa, apontou que o desmatamento é o principal responsável pela desregulamentação dos volumes de chuva na região. O raciocínio é o seguinte: “com menos árvores, há menos umidade no ar e menos chuvas. Logo, o avanço do desflorestamento impacta a produtividade do agronegócio brasileiro”, explica o coordenador. Os impactos já são reais e podem ser sentidos na pele, já que a quantidade de chuvas está comprometida até 48% em algumas regiões. Além disso, um quarto da região sul amazônica no país já atingiu o limite crítico de redução pluvial, em consequência da redução na floresta.
Além das consequências ambientais irreversíveis, vale destacar os impactos econômicos que o estudo traz. De acordo com Leite Filho, “da forma que o desmatamento vem avançando, não conseguimos manter o sistema produtivo na Amazônia da forma com que ele vem crescendo ao longo do tempo, ou seja: é uma situação autodestrutiva”, em entrevista à GloboNews. Lembrando que o agronegócio é fundamental na economia brasileira, sendo responsável, em 2020, por 26,6% do PIB brasileiro, de acordo com cálculos do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, realizados em parceria com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).
A pesquisa durou três anos e levou em consideração o desmatamento e os volumes de chuva no período compreendido entre 1999 e 2009, mais dados de produtividade da Projeção do Agronegócio de 2019 a 2029, feita pelo Ministério do Meio Ambiente.
Ao ser indagado sobre eventuais medidas para deter o desmatamento, regular a chuva e, consequentemente, manter em alta a produtividade, Teixeira Filho afirmou: “o que pode ser feito é, basicamente, o controle do desmatamento. Não há como resolver o problema controlando pontualmente. O combate ao desmatamento da Amazônia precisa ser considerado uma política nacional, mas não somente ambiental: ele também é uma política a favor do agronegócio”.