Jornalismo esportivo: a crônica nossa de cada dia
JFest 2021: Mauro Naves, Livia Laranjeira, Pedro Ivo e Alexandre Simões abordam os principais desafios do jornalismo esportivo diário
por Luiz Felipe Santana
A Faculdade de Comunicação e Artes (FCA) da PUC Minas promoveu em 11 de maio a 3ª edição do JFest. O evento, promovido pelos cursos de Jornalismo das unidades Coração Eucarístico e São Gabriel, foi realizado de forma remota e contou com grandes nomes do jornalismo esportivo.
Ao longo das seis mesas, os convidados falaram dos principais desafios de se fazer conteúdo jornalístico de qualidade, mesmo em tempos de pandemia. Outros temas como jornalismo de dados e a rotina do correspondente internacional também foram abordados. O encontro foi aberto pela professora e coordenadora do curso de Jornalismo do Campus Coração Eucarístico, Viviane Maia.
A mesa de tema “Desafios do jornalismo esportivo diário” teve como convidados o comentarista da FOX e ESPN, Mauro Naves; o comentarista esportivo da Rádio Itatiaia, Alexandre Simões; a repórter esportiva da Globo, Lívia Laranjeira; e o comentarista dos canais Disney Brasil, Pedro Ivo.
Assessoria do clube versus cobertura
Iniciando a conversa, Lívia Laranjeira explicou que uma das maiores dificuldades da cobertura diária esportiva se resume em uma palavra: acesso. A jornalista conta que, desde que começou a ter contato com a rotina dos clubes há quase 10 anos, o acesso a treinos e a frequência das coletivas têm diminuído drasticamente.
“Em outros tempos era mais livre, mas, de 2013 pra cá, os clubes brasileiros têm seguido um padrão europeu em que a imprensa não vai ao CT todos os dias e as coletivas também não são diariamente. Agora, por causa da pandemia, frequentamos bem menos o ambiente do clube, mas é uma mudança que já vinha sendo implantada no Brasil”, ponderou.
Ainda sobre a mudança de cultura na comunicação dos clubes, Lívia conta sobre a dependência das escolhas das assessorias, e prevê que a prática de “restrição” ao acesso da imprensa possivelmente continuará no pós-pandemia.
“Depende da assessoria de imprensa ser escolhida, eventualmente dá pra marcar uma exclusiva, dependendo da pauta, mas muitas das vezes ficamos reféns das escolhas da assessoria de imprensa. Isso é uma tendência que provavelmente vai se manter, e isso traz um desafio maior para a produção de conteúdo, pois precisamos de um jeito de apurar as informações sem estar ali”, explicou.
A repórter ainda expõe outro grande desafio da cobertura diária, que é a competição com as TV ‘s dos clubes. Segundo ela, a TV do clube retém mais informações e assume um papel mais institucional e de marketing, totalmente diferente da cobertura jornalística.
A adaptação do jornalismo esportivo
Ainda falando sobre os rumos do jornalismo esportivo, o comentarista Mauro Naves reiterou a fala de Lívia, e afirmou que desde o início da sua carreira vem acompanhando as mudanças pelas quais a cobertura esportiva tem passado.
“Isso que a Lívia falou sobre mudanças, eu acompanhei muito bem. Posso dizer que sou mais raiz que ela, até porque sou bem mais velho”, brincou.
Mauro também relembra momentos nostálgicos de quando cobria de perto a rotina dos jogadores. Ele conta como era a liberdade dos repórteres em ter acesso a furos e entrevistas exclusivas.
“Eu sou do tempo que acabava o treino e nós entrávamos no campo e entrevistávamos quem a gente quisesse, e isso te permitia como jornalista dar furos, às vezes encostar o entrevistado num canto e perguntar algo que só você sabia. Cheguei a fazer entrevistas após os jogos nos vestiários, muito jogador deu entrevista com toalha, um jornalismo completamente diferente”, afirmou.
Seguindo a linha de avanços e retrocessos do fazer jornalístico, o comentarista conta quais dificuldades ele observa nos dias de hoje. Analisa o cenário pandemia e conta que o jornalista assume mais de uma função, tendo que se reinventar e aprender sobre edição, iluminação e a apurar de uma forma diferente.
A paixão jornalismo
Perguntado sobre como ingressar e ter sucesso na área, o comentarista Pedro Ivo foi firme na sua resposta. Explicou que, acima de qualquer coisa, o jornalista precisa gostar de ser jornalista.
“Isso é o que a gente mais ouve, como ter sucesso na área e isso independe do jornalismo, primeiramente você tem que gostar de ser jornalista e entender o que é jornalismo, que não se resume a apenas ser comentarista”, afirmou.
Questionado sobre o que fazer para ser um bom jornalista, o profissional indicou que a principal característica é sempre buscar a fundo as informações.
“Acho que antes de qualquer coisa você precisa ser inquieto. Você precisa estar buscando respostas, não se acomodar e não aceitar qualquer versão que eu te conto”, considerou.
Assista à mesa completa: