Vitória de Joe Biden indica mudanças na relação comercial Brasil x EUA
O ano de 2020 foi marcado não só pela pandemia da COVID-19, como também pela troca de presidentes na maior economia do mundo
Por: Guilherme Sá e Salma Assumpção
Os eleitores dos Estados Unidos foram às urnas no dia 3 de novembro para decidir se o próximo chefe de Estado de seu país continuaria sendo Donald Trump, do Partido Republicano, ou passaria a ser o democrata Joe Biden (foto Angela Weiss/AFP).
Ao final das apurações, no dia 7 de novembro foi declarada a vitória do democrata. Para analistas e economistas ouvidos por nós, – ouça o podcast com a analista internacional Giovana Macieira e a professora de Economia da PUC Minas, Eleonora Bastos Horta – esse resultado já era esperado, tendo em vista o tom conciliador de Biden, que atraiu diversas alas dos democratas, em contraposição ao discurso inflamado de Trump. A dúvida agora é o comportamento do novo presidente estadunidense em questões econômicas com o Brasil e o mundo.
Na análise de Giovanna Macieira, assuntos ambientais poderão pesar na hora de Biden decidir ter ou não relações comerciais próximas com os brasileiros: “Um desdobramento quase certeiro para o Brasil seria a demissão do ministro do meio ambiente, Ricardo Salles, porque, Biden, diferentemente do Trump, provavelmente vai se alinhar à União Europeia no posicionamento contrário à política ambiental adotada pelo ministro”. O democrata, enquanto vice-presidente de Barack Obama, visitou por diversas ocasiões o país; conhece lideranças no setor e fará pressão ao governo brasileiro para adotar medidas de proteção à Amazônia.
Logo após a confirmação da vitória de Joe Biden, a CNN Brasil apontava que, entre as medidas que o novo governo poderia adotar, o maior rigor nas políticas ambientais se destacaria.
O democrata já havia deixado clara a sua posição em relação às queimadas na Floresta Amazônica. Em debate, no final de setembro, disse que, se o Brasil não parar de destruir a floresta, poderia sofrer “consequências econômicas significativas”. A fala inclusive foi lembrada por Jair Bolsonaro, no dia 10 de novembro, em Brasília, enquanto participava do evento de incentivo ao turismo:“Porque quando acabar a saliva, tem que ter pólvora, se não, não funciona. Precisa nem usar a pólvora, mas precisa saber que tem”, disse o presidente ao classificar a fala de Biden como afronta ao seu governo.
O mandatário brasileiro não esconde sua frustração com a derrota de Trump. Bolsonaro e sua família sempre viram o presidente estadunidense como um exemplo a seguir, e durante os dois anos de mandatos concomitantes, tentou uma aproximação com o americano – apesar de, muitas vezes, sem sucesso. Até hoje, não parabenizou Joe Biden por sua vitória, e a expectativa é de que faça isso apenas após a recontagem de votos, visto que Trump alega fraude no sistema eleitoral americano. As autoridades dos Estados Unidos, no entanto, já se pronunciaram e negaram a possibilidade de fraude nas eleições. Além disso, presidentes de países do mundo todo, como China, Chile e Índia, já parabenizaram o novo mandatário norte-americano.
Na avaliação da professora de Economia, Eleonora Bastos Horta, não há motivos para alarme, a vitória de Biden não prejudica o Brasil, pelo contrário, torna a “guerra comercial com a China mais suave” e isso melhora o clima do mercado internacional, situação benéfica para todos.
MULTILATERALISMO
Em questão de organizações econômicas multilaterais, o Brasil, que tinha um status especial na OMC (Organização Mundial do Comércio) devido à posição de país emergente, abriu mão dessa vantagem para pleitear uma vaga na Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). A OCDE é apelidada de “clube dos ricos”, posto que a maioria de seus membros se encontra na categoria de países desenvolvidos. Além disso, realiza estudos e auxilia no desenvolvimento dos seus países-membros. Essa conversa, que ocorreu ano passado entre Trump e Bolsonaro, encontrava-se sem avanços nos últimos tempos e agora, com um novo presidente nos Estados Unidos, pode mudar totalmente de cenário.
Como falado pela analista internacional Giovanna Macieira, Biden, além de não ter um alinhamento ideológico tão forte com Bolsonaro como o presidente anterior, tem uma preocupação com a questão ambiental, negligenciada nos últimos anos pelo governo brasileiro. Dessa forma, o fator ideológico e ambiental pode impactar nos novos acordos entre os dois países. Ao mesmo tempo, porém, os dois Estados têm uma relação historicamente próxima. A perspectiva, então, é de que não haja mudanças drásticas, mas que, para que se consiga melhores condições para o desenvolvimento de negócios e maior integração comercial, Bolsonaro tenha um papel importante para desempenhar no lado ambiental. O conservadorismo, por sua vez, usado em outras ocasiões com o presidente Trump, não será mais um instrumento efetivo para a criação de melhores relações econômicas entre o Brasil e os Estados Unidos.