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Edição Jornalística – PUC Minas

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Coluna Dizia Eu – O Dilema do Clone

Por Helmut Wolfgang D. Esser

Por conta da quarentena, quando todos estamos em casas, tomei a iniciativa de ser produtivo nesses dias de ócio então, voltei a ler meus livros com mais frequência.

A obra de ficção científica As brigadas fantasma, do autor norte-americano John Scalzi, sequência do best-seller Guerra do Velho, traz um futuro em que a humanidade colonizou o espaço e vive em constante guerra com outras raças. Dentre vários elementos do romance, o mais forte a orbitar a trama (Sacou?! Sacou?!) é a temática da clonagem.

Postei no stories um questionamento que me veio à cabeça, e quis saber as respostas dos meus amigos: você gostaria de ter um clone? Se sim, o que faria? Fiquei surpreso com os resultados: todos que disseram “SIM” alegaram querer ter um clone para desviar, a ele, tarefas e obrigações. Desse modo o “original” ficaria sossegado, sem preocupações.

Claro, podemos “levar” na esportiva e na diversão da coisa. Afinal, foi uma perguntinha para tirar do tédio, certo? Contudo, e se a realidade da clonagem for real? Ao observar por tal ponto de vista, a conclusão se torna mais sinistra, pois falamos de seres viventes, cientes da própria existência, como eu e você, caro leitor, sendo escravizados e oprimidos. Nossa, que bom que é apenas ficção, não é verdade?!

Você gostaria de ter um clone?

Isso diz muito do comportamento humano, pois queremos estar em posição de poder, acima de seu replicante, de seu escravizado.

Segundo Thomas Hobbes (1588-1679), esse egoísmo é o que faz com que os homens tornem-se “lobos uns dos outros.” Essa atitude egoísta é, também o fator responsável pelas guerras e pelos conflitos, assim como pelas perversões das condutas, e por situações prejudiciais a todos. Para o filósofo, o homem não é um animal político ou social, como dizia Aristóteles, mas um lobo egoísta e interesseiro, que sempre quer saciar seu apetite.

Outro ponto interessante na visão individual é o autoconhecimento. Pense na oportunidade de conversar consigo mesmo, cara a cara, e de se confinar por um mês, com sua replica. Pode dar muito certo, caso se descubra genuinamente interessante, inteligente, esperto, carismático, atraente ou engraçado. Ou a verdade poderia vir à tona, com a comprovação de que é chato, preconceituoso, arrogante, convencido, ignorante e machista.

O autoconhecimento leva ao rompimento, no mundo do pensamento, com ideias e formas velhas, por meio de um contínuo processo de busca e transformação pessoal. Sócrates foi o primeiro dos três grandes filósofos gregos a estabelecer as bases do pensamento ocidental, ao adotar o famoso lema “Conhece-te a ti mesmo”, isto é, torna-te consciente da tua ignorância, como ápice da sabedoria. Sem autoconhecimento, sem olhar para dentro, sem conhecer a essência do mundo que nós mesmos somos, não teremos condições de conhecer e querer mudar o restante.

Veja só que discussões conseguimos extrair de uma pergunta inocente e despretensiosa…Ou, talvez, eu realmente precise sair de casa.

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