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Edição Jornalística – PUC Minas

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Efeito colateral do novo coronavírus: fome pode afetar 822 milhões em 2020

Relatório da Oxfam aponta como as consequências socioeconômicas da crise podem levar a 12 mil mortes de fome por dia até o final deste ano

Luíza Lanza

A pandemia do novo coronavírus, que já vitimou mais de 1,2 milhão de pessoas, pode agravar outro dos maiores problemas sociais do mundo: a fome. De acordo com o relatório O Vírus da Fome: como o coronavírus está potencializando a fome em um mundo faminto, da Oxfam (Comitê de Oxford para Alívio da Fome), a insegurança alimentar pode levar até 12 mil pessoas à morte, diariamente, até o final de 2020.

Dados recentes da ONU (Organização das Nações Unidas) mostraram que 690 milhões de pessoas enfrentaram a fome em 2019. Para 2020, com a pandemia do novo coronavírus, a previsão é de que esse número cresça até 132 milhões; totalizando 822 milhões de famintos.

Documento da Oxfam aponta que os impactos socioeconômicos
da crise do novo coronavírus devem agravar a fome no mundo

O documento destaca como a Covid-19 é “a última gota” em países já devastados por conflitos armados, mudanças climáticas, desigualdades e sistemas viciados de produção e distribuição de alimentos. Para o ex-diretor geral da FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura), José Graziano, a pandemia pode fazer com que o mundo retroceda 20 anos no combate à fome.

O risco maior de aumento da insegurança alimentar concentra-se, principalmente, em 10 países: Iêmen, República Democrática do Congo, Afeganistão, Venezuela, Sahel da África Ocidental, Etiópia, Sudão, Sudão do Sul, Síria e Haiti.

A luta para mudar essa realidade fez com que, em outubro deste ano, o Programa Mundial de Alimentos das Nações Unidas fosse reconhecido com o Prêmio Nobel da Paz, por sua “habilidade impressionante de intensificar seus esforços” durante a crise do novo coronavírus. Os 17 mil funcionários do Programa mobilizam, em média, 5,6 mil caminhões, 20 navios e 92 aviões por dia para levar alimentos a 86,7 milhões de pessoas em 83 países.

No Brasil

Embora fora do Mapa da Fome desde 2014, o Brasil é um dos países apontados pela Oxfam sob o risco de emergência alimentar causada pela pandemia do novo coronavírus. Para Maitê Guato, gerente de Programas e Campanhas da Oxfam Brasil, “os riscos de disparada da fome no país são imensos quando o Estado brasileiro falha em garantir as condições mínimas de sobrevivência a todas as pessoas impactadas pela pandemia”.

A incerteza alimentar, porém, não se fortalece apenas na pandemia. Em 2018, um novo relatório da FAO apontou que os índices de fome da América Latina e Caribe subiam pelo terceiro ano consecutivo. No Brasil, a condição afetava 2,5% da população. A porcentagem, ainda que pareça pequena, correspondia a mais de 5,2 milhões de brasileiros; o equivalente a duas cidades do tamanho de Belo Horizonte completamente ameaçadas pela insegurança alimentar. Naquele ano, 821 milhões de pessoas passaram fome em todo o mundo.

A pandemia reacende, assim, o alerta da fome em um país com altos índices de desigualdade e vulnerabilidade social, de economia fragilizada pela paralisação dos serviços durante a crise sanitária e com o segundo maior número de mortes por Covid-19 do mundo.


O “O PMA, a pandemia e um mundo faminto” é um áudio documentário produzido por João Pedro Gruppi, Luíza Lanza, Marcella Gasparete e Paula Nardy para a disciplina de Comunicação e Conjuntura Internacional do curso de Jornalismo da PUC Minas, baseado no relatório O Custo de um Prato de Comida, do Programa Mundial de Alimentos das Nações Unidas, e nos relatos do livro A Fome, do jornalista argentino Martín Caparrós.


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