Os ecos da São Paulo Fashion Week 2025 nas tendências de moda brasileiras
Evento marcou o retorno de grandes nomes da moda brasileira e revelou tendências que já influenciam o vestir contemporâneo, com foco em diversidade, sustentabilidade e liberdade de gênero.
Tainá Lopes
A moda sempre foi um reflexo da sociedade, um espelho que reflete os anseios, os medos e as aspirações de cada geração. Em abril de 2025, a São Paulo Fashion Week (SPFW), um dos eventos de moda mais relevantes do calendário fashionista global, cumpriu essa função com maestria. Mais do que desfilar roupas, a edição foi um espelho do Brasil em constante transformação, reunindo diversidade, sustentabilidade e inovação nas passarelas. Nomes consagrados como Alexandre Herchcovitch, Leandro Castro, João Pimenta e Lino Villaventura, mostraram que, mesmo em tempos de incerteza política e econômica, o país continua a ser um berço de talentos criativos.
Com o tema “SPFW 30 Anos: Uma Jornada de Transformação na Moda Brasileira”, a edição comemorativa da Semana de Moda de São Paulo trouxe à tona reflexões sobre identidade, pertencimento e presença. O evento, que aconteceu no Shopping JK Iguatemi e em outros locais icônicos da metrópole paulista, teve um ar de celebração e renovação. Mais do que simples desfiles, a SPFW 2025 foi uma experiência multissensorial e multidisciplinar sobre o que é vestir-se no Brasil de hoje e no que virá. A passarela virou palco de manifestação artística: corpos moviam-se em harmonia com as peças, modelos de diversas etnias e idades desfilaram, além de acessórios e maquiagem inovadoras que desafiavam os padrões tradicionais.
Destaques que traduzem o Brasil de 2025
Divulgação/Marcelo Soubhia
Alexandre Herchcovitch, em seu retorno à SPFW, revisitou ícones do seu próprio repertório, como a alfaiataria desconstruída e o uso de materiais extraídos da natureza. Combinando referências underground com uma estética mais sofisticada, sua coleção foi marcada por contrastes entre rigidez e fluidez, preto e cores vibrantes. Herchcovitch deixou claro: seu olhar continua agudo e sintonizado com o que o país tem de novo e de valioso.
João Pimenta, por outro lado, seguiu explorando os limites da moda masculina, trazendo gravatas para os homens, fraques estruturados e uma alfaiataria que dialoga com o universo streetwear e a moda de vanguarda. Em entrevista, o designer destacou que “o olhar foi para esse universo do homem” — algo que é diferente do que Pimenta costuma mostrar. Suas peças inovadoras e desafiadoras, com cortes afiados e texturas inusitadas, demonstraram que a masculinidade contemporânea se renova constantemente.
Leandro Castro, nome em ascensão no cenário da moda, surpreendeu a todos com uma coleção construída a partir de resíduos da indústria têxtil. Bordados feitos com fios descartados, tecidos reutilizados e uma estética que mistura a opulência com a consciência ambiental marcaram o desfile. A crítica aplaudiu o compromisso com a sustentabilidade e a capacidade de transformar o lixo em peças de luxo.
Lino Villaventura, emblemático na moda por conta do luxo e da sofisticação, não decepcionou com sua participação na SPFW 2025: trouxe à passarela uma coleção angelical, marcada por tecidos leves, drapeados imaculados e referências às artes plásticas. O desfile foi quase uma performance artística, com trilha sonora envolvente e iluminação que dava destaque às texturas delicadas.
Tendências que já saíram das passarelas
É visível como a SPFW dita o que será tendência no cenário fashion do país. Entre as principais apostas estão a alfaiataria desconstruída em diferentes níveis de formalidade, onipresente nas coleções; o uso de tecidos artesanais e reciclados, que vem crescendo e se tornando cada vez mais relevante; e as roupas de gênero neutro, mostrando que a moda sem rótulos continua em ascensão, com peças versáteis que fogem da dicotomia masculino/feminino.
A estética “indie sleaze”, que mescla visuais dos anos 2000 com o glamour do punk e do rock, também é um ponto que se destaca nas tendências que saíram da SPFW 2025. Outra tendência que chamou atenção foi o uso de cores da terra, tais como ferrugem, ocre, verde musgo e areia, que reafirmaram a conexão da moda com a natureza e as raízes do Brasil.
A São Paulo Fashion Week 2025, portanto, não foi somente um desfile de roupas, mas sim um manifesto sobre o Brasil de hoje e o que vem por aí. Entre tecidos, cores e silêncios barulhentos, os designers deixaram claro que a moda brasileira está viva, politizada e cada vez mais conectada com suas raízes — e com o futuro. Se vestir, afinal, também é uma maneira de se expressar e se reivindicar.
*Trabalho supervisionado pelo professor de jornalismo Getúlio Neuremberg
