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Edição Jornalística – PUC Minas

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O futebol mineiro e a exclusão dos torcedores dos estádios

Clubes mineiros passaram a contar com maior investimento e gestão profissionalizada. Essa nova realidade gerou o afastamento do torcedor popular dos estádios

Felipe Morais Carvalho, Ulisses Maciel e Jorge Augusto

Com a chegada das Sociedades Anônimas de Futebol (SAFs), os clubes mineiros passaram a operar com uma visão mais empresarial, buscando maximizar receitas por meio da bilheteria e dos programas de sócio-torcedor. O resultado imediato foi a elevação dos preços dos ingressos, tornando cada vez mais difícil para o torcedor que não é sócio garantir um lugar no estádio.

O Atlético Mineiro, por exemplo, inaugurou a Arena MRV em 2023; o projeto resultou em um estádio moderno e altamente lucrativo, mas com preços que restringem o acesso das camadas populares da torcida. Com mais de 100.000 sócios e apenas 46.000 lugares disponíveis no estádio, os ingressos geralmente nem chegam a ser  comercializados para o público geral.

Após a compra do Cruzeiro por Pedro Lourenço em 2024, a nova gestão implementou reajustes significativos nos valores dos ingressos. Torcedores históricos, que antes frequentavam o Mineirão regularmente, passaram a encontrar dificuldades para acompanhar o time de perto. 

Pedro Lourenço em apresentação do novo técnico Leonardo Jardim. Reprodução Instagram

O famoso “clássico mineiro” sempre chama a atenção, fazendo com que torcedores saiam de diversos lugares do país para poder apoiar seus times de coração. Entretanto, os preços dos ingressos não ajudam o torcedor, de acordo com jornal Correio Braziliense, o preço dos ingressos para a última semifinal contra o América variaram de R$ 150 a R$ 600.

A descaracterização dos “times do povo”

Arena MRV. Reprodução Instagram

Historicamente, os clubes mineiros sempre tiveram forte ligação com as classes populares. O Cruzeiro, com sua origem ligada à comunidade italiana operária de Belo Horizonte, e o Atlético, conhecido pelo seu apelo popular e torcida apaixonada, construíram suas identidades em cima da proximidade com o público. Entretanto, essa identidade vem sendo colocada à prova com a nova realidade financeira e a priorização de um modelo de torcedor-consumidor.

“Já fiquei de fora de várias partidas importantes porque os ingressos evaporaram antes de chegarem à venda geral.”, Gabriel Coelho, estudante, 23

O aumento da dependência dos programas de sócio-torcedor também contribui para essa exclusão. Quem não é sócio dificilmente consegue comprar ingressos para jogos importantes, já que a prioridade de compra é sempre dos associados. Isso significa que torcedores eventuais ou aqueles que não podem pagar um plano mensal são excluídos do estádio.

Gabriel Coelho é torcedor do Atlético e, apesar de ser sócio na modalidade Galo Na Veia Branco – o plano mais barato, que custa 15 reais mensais – não consegue frequentar os jogos mais importantes, porque não tem prioridade de compra. O estudante aponta: “ Mesmo sendo sócio, não consigo ingresso para os jogos grandes. Já fiquei de fora de várias partidas importantes porque os ingressos evaporaram antes de chegarem à venda geral. Para ter prioridade na compra, só pagando 50 reais por mês, e poucas pessoas têm essa condição ”.

Caio Henrique (20), torcedor do Cruzeiro, relata uma situação semelhante: “Eu e meu pai sempre fomos no Mineirão para apoiar o Cruzeiro. Nos últimos anos, isso ficou mais difícil. Os ingressos são muito caros e, nos clássicos e finais, os ingressos dobram de preço. Então o setor mais barato fica uns 150 reais “.

O que esperar do futuro?

Embora a profissionalização dos clubes e a melhoria da gestão sejam avanços importantes, é fundamental que as SAFs encontrem formas de equilibrar sustentabilidade financeira com a inclusão dos torcedores de menor poder aquisitivo. Medidas como setores populares nos estádios, bilhetes a preços acessíveis e maior flexibilidade na compra de ingressos poderiam ajudar a mitigar esse afastamento.

O desafio agora é garantir que a modernização do futebol mineiro não signifique a perda da sua essência. Os “times do povo” precisam continuar sendo do povo, e não apenas daqueles que podem pagar por isso.

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