Conexão 13

Edição Jornalística – PUC Minas

InternacionalPolítica

O que é Bharat? Entenda porque a Índia quer mudar de nome

Estêvão Valentim, Giovanna de Souza, Izabelly Rigueira, Lara Aguiar e Pedro Januzzi

A última edição da cúpula do G20 aconteceu nos dias 9 e 10 de setembro em Nova Delhi, na Índia. Durante a reunião, Narendra Modi, primeiro-ministro do país-sede, se apresentou como representante de “Bharat”, indicando a mudança do nome do país para o mundo. 

Internamente, o termo Bharat já é utilizado para se referir ao país em documentos constitucionais – a palavra nada mais é que a tradução de Índia em sânscrito, uma língua hindi. No entanto, o partido de Modi busca alterar oficialmente o nome do país para a comunidade internacional. 

Contexto histórico 

Bharat é uma abreviação da palavra sânscrita Bharatvarsha, que significa “a terra dos descendentes dos Bharatas”. Nos livros de história, “Bharata” costuma ser relacionado ao Rei Bharata, filho de Dushyant e Shakuntala, porém, como um país grande e diverso, a explicação do termo possui algumas variações. 

O partido do primeiro-ministro, Bharatiya Janata Party (Partido do Povo Indiano), alega que o termo “Índia” é um símbolo da escravidão e do colonialismo, pois o nome foi imposto pelos britânicos que colonizaram o país. No artigo 1 da Constituição indiana, as duas nomenclaturas são utilizadas de maneira intercambiável: “A Índia, isto é, Bharat, será uma União de Estados”, portanto, ambos são considerados nomes oficiais. 

Cenário político 

Ao longo dos últimos anos no poder, o partido de Narendra Modi já tem feito mudanças para valorizar o passado da Índia, como renomear avenidas importantes do país. Contudo, o partido faz frente a uma ampla aliança de oposição, formada por 29 partidos denominada “Indian National Developmental Inclusive Alliance” (INDIA), que em português significa “aliança nacional para o desenvolvimento inclusivo da Índia”.

A oposição não é favorável à mudança de nome internacionalmente por alguns motivos, sendo um deles a possibilidade de enfraquecimento do país no cenário mundial. Para eles, “Índia” é um nome forte e consolidado, e sua mudança pode trazer prejuízos em suas relações internacionais. Além disso, o partido opositor acredita que a recente decisão do bloco de se autodenominar INDIA como um acrônimo também influenciou a tentativa do BJP de renomear o país nesse momento. 

No dia 22 de setembro, o prefeito da cidade de Indore, Pushyamitra Bhargava, aprovou uma proposta para substituir Índia por Bharat em suas funções e em sua correspondência. A proposta agora será apresentada à Câmara de 85 membros da Corporação Municipal de Indore. É provável que movimentos como esse sejam observados ao longo dos próximos meses em diferentes esferas políticas do país, até que uma decisão federal seja tomada. 

“Nomear o país como Índia foi uma decisão dos britânicos, ao passo que chamá-lo de Bharat reflete a nossa rica herança histórica e cultural. Até mesmo de acordo com a Constituição, o nome do nosso país é Bharat”, disse o prefeito ao jornal PTI.

Diplomacia como uma via de mão dupla: é preciso dar para receber 

Christina Yukie, licenciada em história pela PUC Rio, explica que a adoção de um nome anti-imperialista pode levar a mudanças de posicionamento do país em relação a outros. “Será preciso sim, muita diplomacia de convencimento, a nível de segurança econômica interna e, consequentemente, externa, para mostrar que o “novo” país ainda é o antigo em suas relações internacionais, ou, podemos também avaliar essa hipótese, de que o novo país queira apresentar novas propostas internacionais, baseando-se no fato de que, novo nome, nova forma de agir”.

Preservação da identidade nacional

O país do sul asiático tem um passado colonial de submissão ao império britânico, do qual o partido de Narendra Modi pretende se desvencilhar. No entanto, algumas coisas não podem ser mudadas somente com a troca de nome, como uma sociedade baseada em castas e costumes e hábitos presentes na consciência coletiva.

“Não se pode construir um novo país se ainda mantiver a submissão ao que o governo britânico impôs e consolidou; mesmo que de forma abstrata. Construir ou reconstruir uma identidade é tarefa de anos, não é feita de um dia para o outro ou de um ano para o outro; simplesmente exigirá tempo para tudo”, afirma Christina.

A possível alteração no nome do país pode ser o primeiro passo para uma série de mudanças de políticas e posicionamentos, mesmo que isso não seja o intuito inicial. A historiadora lembra que o que está em jogo é o desvencilhamento do passado colonial de controle e exploração ocidental, mesmo que o processo seja demorado: “A luta de Bharat é autonomia em todos os sentidos e, para isso, cortar o passado colonial é vivenciar novas expectativas e perspectivas na construção de uma nova nação: sem controle externo, sem domínio nefasto, mas perigoso se mal-intencionado. A transição pode demorar longos e longos anos e corre o risco de o maior inimigo desse processo ser o próprio povo”.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *