Brics – O que muda após a entrada dos novos integrantes
Adriano Oliveira, Bernardo Haddad, João Miguel Prates, Luan Versiani, Matheus Eden e Vinícius Tadeu
Em agosto deste ano, depois de meses de discussão e debates, foi oficializada a ampliação do número de membros do Brics. Antes com apenas cinco integrantes, o bloco do qual fazem parte países de economias emergentes, agora passou para 11 integrantes. Após a 15ª cúpula de líderes do bloco na África do Sul, a expansão foi anunciada. Brasil (B), Rússia (R), Índia (I), China (C) e África do Sul (S de South Africa) convidaram seis nações para o bloco: Argentina, Egito, Irã, Etiópia, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos. A entrada oficial dos novos integrantes do Brics deve ocorrer no dia 1° de Janeiro de 2024, a partir de quando os seis países convidados terão que cumprir condições estabelecidas pelos fundadores.
Recursos naturais: poder econômico e geopolítico
O Brics agora abriga uma impressionante reserva de recursos naturais. De acordo com um relatório do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, o grupo detém 72% das reservas globais de minerais de terras raras e 42% das reservas de petróleo. Essa concentração de recursos naturais confere uma considerável vantagem econômica e geopolítica ao Brics expandido.
A entrada da Argentina no Brics é notável, pois ela é projetada para se tornar o segundo maior produtor de lítio do mundo até 2027, ultrapassando o Chile. Isso é resultado de 13 projetos de lítio em andamento no país sul-americano. A inclusão da Argentina fortalece ainda mais os Brics como um importante player no mercado de minerais críticos.
Perspectivas sobre a expansão do Brics: desafios e possibilidades geopolíticas
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) advoga pela expansão do grupo. Em sua visão, essa expansão poderia contribuir para a influência em negociações com economias mais desenvolvidas, como os Estados Unidos e as nações europeias. No entanto, de acordo com a análise de Valéria Alvarenga, professora de Geografia, o alargamento do Brics, mediante a inclusão de países convidados, pode resultar em um aumento significativo da influência geopolítica da China. Isso, por outro lado, não garante necessariamente melhorias nas relações comerciais do Brasil com o exterior.
“Acho que o que motivou foi ampliar a diversidade geográfica, política e econômica do grupo. Aumentar a influência política dos países membros e ser um contrapeso ao ocidente. Apesar de diminuir a perda de influência de determinado país nas decisões no grupo, como o Brasil por exemplo, o grupo coeso ganha força no cenário internacional.”
Reação dos Estados Unidos
Enquanto o Brics se expande, os Estados Unidos buscam fortalecer suas alianças financeiras com economias desenvolvidas por meio de instituições como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional. Embora os EUA tenham minimizado publicamente a expansão do Brics, essa mudança não passa despercebida.
A entrada do Irã no Brics é particularmente preocupante para os Estados Unidos, que buscam manter a pressão sobre o país devido ao seu programa nuclear e à repressão interna. A inclusão do Irã no grupo reflete a busca por alternativas à ordem internacional liderada pelos EUA, especialmente em áreas como resolução de controvérsias comerciais e mudança climática.
A expansão do Brics é um desenvolvimento de grande relevância no cenário geopolítico e econômico global. Ela reflete a crescente demanda por mudanças na ordem internacional e promete reconfigurar as dinâmicas globais à medida que esses países emergentes buscam maior influência e independência em um mundo em constante evolução.