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Diferenças no posicionamento político afetam núcleos familiares e provocam silenciamento

Por Isabella Martins, Lauro Moura e Regina Moraes

De um lado, a militância da esquerda incentiva o eleitorado mais jovem a votar e, para isso, regularizar o seu título de eleitor. Exercer com consciência o direito cidadão de eleger, em outubro de 2022, um novo presidente que não seja o atual ocupante do cargo no Planalto é o estímulo utilizado para levar os jovens ao voto.

Até a cantora Anitta, que possui mais de 63 milhões de seguidores somente no perfil do Instagram, mobilizou o seu público, composto na maioria por jovens para pedir aos que têm entre 16 e 18 anos que acertem a documentação para se credenciar a votar nas eleições.

Um levantamento do BTG/FSB demonstrou que 67% dos jovens avaliam o atual governo como ruim ou péssimo, enquanto que 49% do eleitor médio de 60 anos avalia o presidente Bolsonaro negativamente.

Este é um dos retratos mais significativos do chamado “gap”’ geracional que as famílias brasileiras passaram a enfrentar desde o acirramento da polarização política há cerca de 10 anos. Hoje, a polarização é palco de conflitos frequentes entre opositores que antes não costumavam se posicionar politicamente no interior de suas famílias.

Ouça o áudio da relações públicas Clair Câmpara, que apresenta suas impressões sobre o conflito entre gerações de um mesmo núcleo familiar:

Para os jovens entrevistados, a postura do mandatário do país durante a pandemia pesou com força sobre a sua reputação. Muitos perderam familiares para a Covid-19. Além disso, citam como justificativa para a sua rejeição as declarações preconceituosas do presidente contra mulheres, negros, LGBTs, indígenas e outras minorias.

Segundo dados de pesquisa Datafolha realizada no final de julho deste ano, 49% dos eleitores deixaram de falar sobre política com os familiares.

Esta situação atinge 54% dos que possuem intenção de votar no ex-presidente Lula e 40% dos que apoiam Bolsonaro. Deste total, 15% relatam episódios de ameaça verbal e 7%, conflitos envolvendo até mesmo violência física. Nos úlltimos meses, o constrangimento por tomadas de posições políticas ocorreram em 54% dos relatos, segundo a pesquisa.

O economista Helton Diniz Ferreira aborda, entre outras percepções, a temática do silenciamento nas relações de família, no áudio a seguir:

Em entrevista ao jornal Folha de São Paulo, o professor do Instituto de Psiquiatria e coordenador do programa de pós-graduação em psiquiatria e saúde mental da UFRJ, William Berger, afirma “que a sociedade tem encarado a política como algo dicotômico e que as brigas e os ressentimentos geram sofrimento psíquico”.

A psicóloga clínica e psicanalista Clara Lins, também entrevistada pela Folha, lembra que “acabar com os conflitos é impossível e, assim, o maior problema é a forma como lidamos com eles, em especial quando usados para descarregar impulsos destrutivos”. Ela ressalta que tem se observado o “crescimento do sentimento de desamparo e de solidão, de enfraquecimento do vínculo” resultantes destes conflitos.

Num cenário em que gerações se chocam – uma vez que também há jovens defensores da extrema direita e que tem pais lulistas ou de esquerda – o que se tem como resultado é a qualidade de vida sendo afetada de ambos os lados, e sem horizonte pacífico para o fim desta guerra política em família.

Um outro legado percebido pela psicanalista é o do movimento Escola Sem Partido, que estimula a aplicação de punições para professores que se posicionam politicamente em sala de aula.

A cultura do silenciamento – que se estende também para o ambiente escolar, um importante espaço de prolongamento das relações familiares – transformou-se num hábito entre pais e filhos que pensam muito diferente entre si, empurrando cada geração para lados opostos e obrigando-os a se fechar em suas próprias bolhas.

Hoje, os membros de uma mesma família tem preferido se manifestar em outros círculos sociais, onde se sentem mais seguros ou melhor representados, em vez de conversar em casa.

Talvez o excesso de intimidade nestas relações podem levar a crer que as pessoas não sintam necessidade de adotar, nas discussões políticas, defesas ou argumentos mais institucionais e menos personalistas.

Texto e edição do webstories: Isabella Martins, Lauro Moura e Regina Moraes

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