Monkeypox: França registra primeiro caso de transmissão da doença entre humano e cachorro
Autoridades sanitárias alertam sobre os cuidados com os animais domésticos e falam pela primeira vez sobre “evolução do vírus”
Por Anna Paim, Edilson Nicolau, Gabrielly Ribeiro e Stéfanny Manoelita
O crescimento vertiginoso de casos de transmissão do vírus monkeypox entre humanos tem deixado a comunidade científica internacional em alerta, o que inclusive já foi abordado pela equipe do Conexão13. No entanto, essa temática ganhou uma nova página na última semana (10), após o periódico científico The Lancet publicar a evidência de que um cachorro pode ter sido acometido pelo vírus a partir do contato com um humano infectado.
Os tutores do animal, dois homens residentes da cidade de Paris, estavam infectados com o vírus e relataram que o cachorro dormiu na cama com eles. Doze dias após o início dos sintomas dos humanos, o cão, de 4 anos, também apresentou lesões e testou positivo para o mesmo tipo de varíola de um dos donos.
O início dos sintomas em ambos os pacientes e, na sequência, em seu cão, sugere a transmissão do vírus da monkeypox do humano para o animal. Ainda não se sabe se o contrário pode ocorrer, isto é, animais de estimação contaminarem seus donos. Cientistas dizem que a hipótese deve ser observada e casos devem ser estudados para chegar a uma determinação.
“É a primeira vez, então significa que os cães podem ser infectados, mas não significa que o cão pode transmitir a doença e infectar outros cães, nem isso significa que o cão pode reinfectar o ser humano”, disse Sylvie Briand, diretora global de preparação para riscos infecciosos da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Diante dessa descoberta, o diretor de emergências da OMS, Michael Ryan, reitera que os animais, domésticos ou não, devem ser isolados de pessoas portadoras da doença. “Temos que permanecer vigilantes, os animais de estimação não são um risco. Mas é através do processo de um animal infectar o próximo, o próximo e o próximo que vemos uma rápida evolução do vírus”.
Como ocorre a transmissão?
Nas redes sociais, a infecção do animal virou debate entre muitos usuários. Por conta de informações falsas espalhadas na internet e devido aos estigmas sociais, algumas pessoas acreditam que o casal responsável pelo cachorro possa ter cometido zoofilia. Não é recente que a monkeypox vem sendo ligada, indevidamente, à homossexualidade. Fake news foram divulgadas relatando um suposto aumento de risco entre casais homoafetivos. A informação já foi desmentida pela OMS e, via mensagem online, declarou:
“Vimos mensagens estigmatizando certos grupos de pessoas em torno desse surto de varíola. Queremos deixar bem claro que isso não está certo. Em primeiro lugar, qualquer pessoa que tenha contato físico próximo de qualquer tipo com alguém que tenha varíola está em risco, independentemente de quem seja, o que faça, com quem tenha relações sexuais ou qualquer outro fator. Em segundo lugar, estigmatizar as pessoas por causa de uma doença é inaceitável. É provável que o estigma só piore as coisas e nos impeça de acabar com esse surto o mais rápido possível. Precisamos nos unir para apoiar qualquer pessoa que tenha sido infectada ou que esteja ajudando a cuidar de pessoas doentes. Sabemos como parar esta doença e como todos podemos proteger a nós mesmos e aos outros. Estigma e discriminação nunca estão bem, e não está bem em relação a este surto. Nós estamos todos juntos nisso”.
Exemplos de desinformação podem ser vistos nas redes, como é o caso do tweet feito pelo usuário Ian Maldonado/@ianmdo, que chamou de “relato nojento” a notícia acerca do animal infectado.
Reprodução via Twitter: Ian Maldonado, publicado em 15/08/2022
Como foi bem explicitado pela OMS em um trecho mais acima, diferentemente do que era pensado nos primeiros casos da doença, apesar do contato sexual ser uma das principais formas de contágio, ele não é o único. Atualmente, as principais formas de contágio da monkeypox são por meio de contato próximo com lesões, fluidos corporais, gotículas respiratórias e materiais contaminados como, por exemplo, roupas de cama.
Sendo assim, quaisquer conclusões baseadas no contágio apenas por meio de contato sexual não passam de um estigma e devem ser desmentidas o quanto antes.
Recomendações
O Centro de Controle de Doenças (CCD) americano já publicou as seguintes recomendações a respeito do risco de contágio de animais domésticos:
- Não abandone ou sacrifique animais de estimação apenas por causa de uma exposição potencial ou vírus monkeypox;
- Não limpe ou dê banho em seu animal de estimação com desinfetantes químicos, álcool, peróxido de hidrogênio ou outros produtos, como desinfetante para as mãos ou outros produtos de limpeza industriais;
- Se a pessoa com varicela não teve contato próximo com animais de estimação após o início dos sintomas, peça a amigos ou familiares que moram em uma casa separada para cuidar do animal até que a pessoa com varicela se recupere completamente. O contato próximo inclui acariciar, abraçar, beijar, lamber, compartilhar áreas de dormir e compartilhar comida;
- Depois que a pessoa com varicela estiver recuperada, desinfete sua casa antes de trazer animais saudáveis de volta.
Panorama da doença
No momento, os Estados Unidos lideram o ranking de casos de monkeypox – são 13.517 – seguido por Espanha (5.968 casos e duas mortes). Com base em dados divulgados no dia 17 de agosto, o Brasil é o terceiro país com maior número de pessoas infectadas com o vírus. São 3.213 confirmações e uma morte comprovada.
No início deste mês (dia 10), o Conexão13 entrevistou uma das maiores autoridades em virologia do Brasil, a Drª Erna Kroon, professora do Departamento de Microbiologia da UFMG. Na ocasião, a professora falou sobre a possibilidade de humanos transmitirem a doença a animais domésticos. Confira o trecho.
Professora Erna Kroon em entrevista ao ConexãoCast – 10/08
A resposta fornecida pela professora Erna já antecipava o que as autoridades científicas confirmam neste momento: animais domésticos podem ser infectados por intermédio de seres humanos. Para conhecer as formas de transmissão, prevenção, os sintomas e tirar outras dúvidas sobre o vírus monkeypox, confira na íntegra a entrevista com a Drª Erna Kroon, no podcast original e exclusivo gravado pelo Conexão13.