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FOME: Pandemia agrava insegurança alimentar em BH

Dados recentes mostram que Belo Horizonte possui hoje quase 100.000 pessoas em situação de insegurança alimentar

Por Carlos Gabriel Paiva, Cler dos Santos, Letícia Souza, Luis Guilherme Arcanjo, Milena Amorim e Victoria Carvalho

Belo Horizonte atingiu a marca de mais de 100 mil famílias em situação de extrema pobreza e insegurança alimentar, fato que foi agravado pela pandemia. Esse é o maior número registrado desde a criação do Cadastro Único, em 2001. Somam-se a essa realidade mais de 18 mil famílias em linha de pobreza. Os dados são da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH).

Por conta de números como esses, a quantidade de moradores em situação de rua aumentou a ponto de capital mineira ser a cidade com a segunda maior taxa de pessoas nessa condição. 

MESMO COM DEFLAÇÃO, ALIMENTOS AINDA SÃO OS MAIS CAROS 

A capital mineira registrou deflação em julho, muito por conta da redução do preço dos combustíveis e da energia elétrica, mas a população ainda sofre com a alta dos alimentos. Comer está mais caro, seja em casa ou restaurantes, afinal, de acordo com o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), fazer refeições em restaurantes ficou 1,21% mais caro e comer na própria residência, 0,91%, entre junho e julho deste ano.

Entre os alimentos que mais pesaram no bolso dos mineiros estão o leite e seus derivados, frutas, carnes e peixes industrializados.

Frutas e verduras
Letícia Souza / De acordo com o IPCA, fazer refeições em restaurantes ficou mais caro 1,21%

RESTAURANTES POPULARES NA CAPITAL

Como forma de atender a população carente, a Prefeitura de BH mantém quatro restaurantes com refeições a preços populares. Ao todo, são servidas 3 refeições por dia: 

  • Café da manhã: R$0,75; 
  • Almoço: R$3,00; 
  • Jantar: R$1,50.

O orçamento destinado aos restaurantes populares em 2022 é de mais de R$ 32 milhões, contra R$ 24 milhões do ano anterior. De acordo com a PBH, a alta dos preços dos alimentos é um dos motivos que ajudam a explicar esse salto orçamentário de um ano para o outro.

Também já se nota um aumento no número de refeições oferecidas neste ano. Entre janeiro e junho, mais de 1,2 milhão de refeições foram entregues. No mesmo período do ano passado, esse número ficou na casa dos 900 mil.

São quatro restaurantes distribuídos na cidade, sendo um no Centro, um na área hospitalar, um no Barreiro e outro em Venda Nova. Os endereços estão disponíveis no site da Prefeitura.

Vanderléia Pereira da Silva, 79 anos, aposentada por invalidez, moradora do bairro Primeiro de Maio, região Norte de BH, ressalta a importância do restaurante popular no que diz respeito à fome.

“A pandemia terminou de retirar a minha dignidade. Eu já passei fome outras vezes, isso não é novidade para mim, não sabe? O problema é que eu sempre tive que dar meu jeito pra comprar as coisas, mas a pandemia desse vírus maldito fez com que eu não tivesse mais saída, simplesmente não consigo mais sozinha”, ressalta.  

Sobre a quantidade de refeições que faz por dia, Vanderléia também expõe a situação: “Sobre comida em casa, faço quantas refeições der. Se for uma eu faço só uma. Mas tento economizar ao máximo já que eu moro sozinha e preciso que as doações durem aqui em casa.” 

O CENÁRIO DA FOME NO PAÍS

No último mês, um relatório da ONU revelou que o Brasil voltou para o mapa da fome e que os números de pessoas que sofrem com insegurança alimentar escalaram em relação a períodos anteriores:

  • 2019 – 2021: 61,3 milhões de pessoas enfrentaram insegurança alimentar
  • 2014 – 2016: 37,5 milhões de pessoas enfrentaram insegurança alimentar

O nome de um país aparece na lista do mapa da fome da ONU quando 2,5% da sua população total enfrenta insegurança alimentar, que pode ser moderada ou grave. O relatório entende como grave quando uma pessoa fica sem ter o que comer e passa fome por um dia ou mais. O Brasil tem hoje uma taxa de 4,1% de pessoas entre essas duas situações, mais grave do que a média global. 

As causas da fome englobam vários fatores como questões sociais, econômicas, ausência e redução de políticas públicas voltadas ao combate à fome, desigualdades sociais, pobreza, dentre outros, além da pandemia da Covid-19, que salientou ainda mais o número de pessoas que convivem com insegurança alimentar.

IMPACTO NA SAÚDE E NUTRIÇÃO

Para entender os aspectos e riscos da pobreza nutricional, a especialista em nutrição oncológica, clínica e estética, Viviane Mello, aponta as principais consequências em pessoas em situação de fome. “A subnutrição e a desnutrição são as principais consequências da fome, afetando drasticamente a qualidade de vida e a saúde física e mental dos indivíduos, podendo causar doenças e levar até mesmo à morte”, alerta. 

Segundo a nutricionista, a insegurança alimentar caminha por várias vertentes, como: escassez de alimentos, problemas de abastecimento, produção insuficiente, perda de fonte de renda (desemprego), pobreza, preços elevados e até mesmo as mudanças climáticas.

Dentre as alternativas pensadas de combate ao problema, ela destaca a criação de políticas públicas de assistência social, emprego e renda, criação de hortas comunitárias, composição de bancos de alimentos, elaboração de políticas públicas para a saúde da população, investimento em agricultura familiar e diminuição do desperdício de alimentos. 

 

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