Beyoncé é a artista feminina que mais ganhou Grammys na história: e isso importa para além dos números
Cantora já conta com 28 gramofones, batendo recorde de Alison Krauss como a artista mais aclamada do Grammy
por Arthur Almeida
Beyoncé dispensa apresentações. Sua carreira de mais de 25 anos conta uma história de superação e luta por igualdade de raça e gênero. Embora ela sempre tenha deixado claro que seu sucesso é fruto de muito trabalho, o reconhecimento ainda a surpreende, o que ficou claro durante seu discurso ao receber o Grammy de Melhor VideoClipe pelo material visual de Brown Skin Girl.
O clipe faz parte do audiodocumentário Black Is King, disponível no Disney +. Nele, a beleza negra é exaltada com cenas que carregam força e leveza, além de se tornar uma homenagem à pele de pessoas que há séculos são estigmatizadas por sua cor.
“Estou trabalhando a vida inteira desde os nove anos de idade. Nem acredito que isso está acontecendo, essa noite é mágica. Eu sei que meus filhos estão me assistindo. Blue, parabéns, você ganhou o Grammy. Estou muito orgulhosa de você, é uma honra ser a mãe de todos vocês”, disse Beyoncé.
A fala de Beyoncé refletiu diretamente o fato de que, naquele exato momento, ela bateu o recorde de Alison Krauss como a mulher que mais ganhou o Grammy na história. Ao longo de sua carreira, foram 28 estatuetas, dentre elas as de Música e Clipe do ano, que fazem parte das categorias principais. Com a celebração de sua filha, Blue, ela se refere ao fato de a garota de apenas 10 anos ter se tornado a pessoa mais jovem a ganhar o prêmio: a pequena é creditada como compositora e intérprete na faixa Brown Skin Girl.
Altos e baixos
Embora a noite dessa edição tenha sido marcada por vitórias e recordes da Queen B (como Beyoncé é popularmente chamada), sua relação com a academia de música nem sempre foi assim. Com uma discografia aclamada pela crítica e pelo público, Beyoncé também já se viu vítima de boicotes e protagonizou discussões sobre racismo no Grammy. Ainda na edição de 2014 da premiação, seu álbum autointitulado Beyoncé foi indicado na categoria Álbum do Ano e não levou, o que chocou fãs e entusiastas do mundo da música. O projeto foi concebido de forma inovadora, quebrando recordes e entregando material visual para cada uma das 13 faixas presentes no LP.
Em 2016, a cena se repetiu. O álbum Lemonade foi o trabalho mais pessoal de Beyoncé, e discutiu temas como racismo e a solidão da mulher negra por meio de letras profundas e empoderadoras. Embora o álbum tenha sido indicado na categoria de Álbum do Ano, assim como seu antecessor, ela não ganhou. A perda foi pauta de muita discussão sobre racismo no Grammy, uma vez que o Lemonade se posiciona como um álbum aclamado, mas que traz pautas sociais em seus versos.
Os 28 gramofones de Beyoncé representam – e muito – minorias, mas as categorias nas quais ela venceu ao longo dos anos têm o nome Soul e R & B acompanhado. Essas categorias foram criadas exclusivamente para prestigiar artistas negros, excluindo-os das categorias principais. O fato de Beyoncé ser “esnobada” em categorias principais também reflete o racismo estrutural presente na premiação.
Um gênero não a define
Desde sua primeira indicação ao Grammy em 2000, – duas indicações para o hit da Destiny’s Child, Bills, Bills, Bills, que perdeu para o sucesso igualmente enorme No Scrubs, do TLC – Beyoncé arrecadou um total de impressionantes 79 nomeações, o maior número da história para uma artista feminina. Dessas indicações – incluindo nove este ano – ela levou para casa 28 estatuetas.
Seja em categorias de Soul, Rap, Pop, Rock ou Gerais, ela já levou a melhor no Grammy. Com 6 álbuns solo, Beyoncé já mergulhou em diferentes gêneros: abraçou suas raízes negras com o ritmo R & B, conquistou o topo das paradas com o Pop e expressou sua raiva com o Rock. Em todas, a aclamação a seguiu. Não há limites para uma mãe de três filhos que ainda segue quebrando tabus e surpreendendo sua legião de fãs ao redor do mundo. Usando da fala de Adele para a descrever: “Beyoncé é monumental. Ela é a indústria”.