Blackfishing: a polêmica de pessoas brancas acusadas de fingirem ser negras nas redes sociais
por Carla Abreu
Você conhece o termo blackfishing? O termo é derivado da expressão da língua inglesa “catfishing”, que significa impostor, e é utilizado para denominar a prática de pessoas não-brancas que se apropriam de elementos da cultura negra. O fenômeno vem se tornando mais forte na internet, principalmente nos Estados Unidos.
A prática vai além da apropriação cultural. Além do uso esporádico de cabelos, roupas e trejeitos de pessoas negras, muitas das vezes o blackfishing é também pautado como uma questão de identidade. A maior polêmica ao redor do blackfishing é o fato de que, quando mulheres brancas se utilizam da cultura negra, elas são aplaudidas, mas quando as mulheres negras fazem o mesmo, são invisibilizadas ou até mesmo criticadas.
Em entrevista à BBC Newsbeat, em 2018, a enfermeira Dara Turmond, referência negra sobre o blackfishing, argumentou que negros sempre foram julgados apenas por “serem eles mesmos”.
Elementos do blackfishing
A prática do blackfishing está relacionada a diferentes elementos da cultura e da aparência de pessoas negras:
Bronzeamento
Um dos principais componentes do fenômeno é o bronzeamento excessivo. Muito utilizado entre as famosas, principalmente estadunidenses, e propagado fortemente pelas Kardashians, o bronzeamento artificial ou feito de forma excessiva é extremamente desaprovado pela comunidade negra. Além de tirar força da luta contra o racismo, a prática ainda pode trazer problemas sérios à saúde, como o aumento da possibilidade de cânceres de pele.
Perucas crespas ou tranças tradicionais
Outro elemento do blackfishing é o uso de perucas crespas, cacheadas ou tranças e dreads tradicionais da cultura negra. Ligados à apropriação cultural, o uso desses penteados ou tipos de perucas vem da ancestralidade negra, símbolo da resistência contra o racismo.
Preenchimentos labiais
Apesar de serem comuns entre muitas mulheres de diferentes raças, os preenchimentos labiais químicos ou maquiagens que trazem essas características também podem ser elementos do blackfishing. Pessoas negras comumente possuem feições específicas, como lábios cheios. Em muitos casos, pessoas negras sofrem bullying por apresentarem essa característica, mas, quando pessoas brancas utilizam esses procedimentos, costumam ser elogiadas.
Exemplos de blackfishing
Kim Kardashian
A empresária e socialite americana, Kim Kardashian, é acusada há anos de tentar se apropriar da cultura negra. Com procedimentos estéticos e maquiagem, a famosa faz muitos fãs e seguidores repensarem sobre sua raça. Kim não tem descendência negra, e sim, armênia, por parte de seu pai, Robert Kardashian.
Jesy Nelson
A cantora, que deixou o grupo Little Mix em 2020, já foi criticada por seus atos algumas vezes durante seus 10 anos de carreira. Porém, nesta semana, em um artigo do site Buzzfeed, foi feita uma compilação de suas problemáticas, incluindo o blackfishing. Muitos fãs não tinham ideia de que Jesy é branca, já que a maquiagem e o bronzeamento artificial fazem com que ela tenha o mesmo (ou mais escuro) tom de pele que sua ex-colega de grupo negra, Leigh Anne Pinnock.
Bianca Andrade
Em um episódio aparentemente isolado, a empresária Bianca Andrade, também conhecida como Boca Rosa, publicou uma foto em que aparecia com tons mais escuros e utilizava uma peruca crespa. Nos comentários, muitas pessoas elogiaram. Porém, uma mulher negra lembrou em um comentário: “Engraçado que a Thais Araújo sofreu ofensas justamente por ter cabelo crespo e ela (Boca Rosa) está sendo elogiada. Que estranho, né? Coisas de negro é legal, só não é legal ser negro”.