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Edição Jornalística – PUC Minas

Esporte

[JFest 2021] MESA 1: Jornalistas falam sobre a rotina de um correspondente internacional em evento da PUC Minas

por Alison Perpetuo, Luiz Fernando A. Veloso, Paulo Vítor, Thiago Augusto e Rafael Sousa

A PUC Minas promoveu no dia 11 de maio a terceira edição do JFest, evento que reúne profissionais de jornalismo do Brasil e do mundo para debaterem os desafios da profissão. O evento também contou com homenagens aos 50 anos da Faculdade de Comunicação e Artes (FCA). A exemplo da edição anterior, o JFest de 2021 ocorreu de forma remota, sendo transmitido através do canal no YouTube da FCA.

Para abrir o evento, a primeira banca teve como tema a rotina do correspondente internacional. Moderada pela ex-aluna de jornalismo da PUC Minas, Ester Pinheiro, contou com a presença dos jornalistas Marcelo Bechler (correspondente da TNT Sports e da Rádio Itatiaia em Barcelona), Felipe Kieling (correspondente da Band em Londres) e da jornalista francesa Anne-Laure Bonnet.

O início de carreira

Marcelo Bechler e Felipe Kieling iniciaram suas carreiras como correspondentes internacionais de forma bem parecida. Eles decidiram ir para Barcelona por conta própria. Kieling chegou a vender o próprio carro para realizar o objetivo. Ambos comunicaram a decisão aos veículos onde trabalhavam e receberam respostas distintas.

Felipe Kieling recebeu uma resposta positiva. A Band o convidou para cobrir a Olimpíada de Londres, em 2012, assim, estaria empregado por seis meses, inicialmente. Posteriormente, ele chegou a receber um contrato definitivo como correspondente internacional da emissora.

Bechler conseguiu ir para Barcelona, porém, por conta própria. Segundo o jornalista, ficou algum tempo aguardando oportunidades, até que chegou uma do Esporte Interativo (atual TNT Sports) devido a, na época, o canal ter conseguido os direitos de transmissão da 
Uefa Champions League (Liga dos Campeões da Europa, em português) e necessitar de alguém para cobrir o Barcelona e o Real Madrid. Devido a isso, contrataram ele e outra pessoa, que ficou pouco tempo.

O furo jornalístico

Em determinado momento, Marcelo explica um pouco sobre os dois principais furos jornalísticos que ele deu: Neymar indo para o PSG e Messi enviando burofax ao Barcelona para sair. Segundo ele, foram “sorte as duas vezes”, pois o telefone dele tocou com a notícia chegando. Ele disse que trabalhou e que a notícia era mais importante que quem dava a notícia. 

No caso de Neymar, ele diz ter dado a notícia de forma clara e sem querer ganhar nome em cima disso, valorizando o fato em si. No caso de Messi, confiaram a ele a informação. Bechler mostra o quão importante é saber dar a informação com qualidade e sem querer apenas dar o furo. Ele recomenda que trabalhar bem a informação pode render mais notícias futuramente.

“Eu acho que uma coisa que eu fiz importante foi trabalhar que a notícia fosse importante, e não eu”

Marcelo Bechler

Desafios do correspondente

Se transferir de cargo é sempre um desafio, principalmente quando isso inclui a mudança de país, para um correspondente o novo trabalho exige adaptação profissional e pessoal.

Segundo Marcelo Bechler, é importante compreender as diferenças culturais, tornando-se necessário um certo grau de envolvimento com a cultura nativa para ser um profissional acima da média. Para exemplificar, o jornalista cita o comportamento das torcidas, que em países como o Brasil costumam ser mais animadas, cantarem e se manterem de pé durante o jogo. Já na Espanha, possuem um comportamento mais calmo, prestando mais atenção na partida e com poucas festanças durante os 90 minutos. Contundo, essa compreensão cultural não deve se restringir somente ao nicho do comunicador, mas também aos hábitos corriqueiros, como o horário do café, almoço etc.

Cada vez mais, em qualquer lugar do mundo, é imposta aos jornalistas a necessidade de serem profissionais amplos, entendendo um pouco de cada assunto. Felipe Kieling considera essa qualidade como indispensável para um correspondente, visto que muitas vezes é o único representante de um veículo de comunicação em determinando país, precisando cobrir temas dos quais não possui conhecimento. Para Felipe, a vida do correspondente é dividida de duas formas: a vida ideal e a real, relatando como esse trabalho gera diversas responsabilidades, deixando o profissional sobrecarregado. Para completar, aponta a necessidade de sempre procurar informações que sejam interessantes para o público brasileiro, destacando essa qualidade como a essência do correspondente.

Já Anne-Laure conta sobre como as coisas atualmente estão rápidas e, em decorrência disso, existe uma dificuldade para se contar histórias que consigam transmitir sentimento. Com passagens como correspondente por Brasil, Espanha, Inglaterra e Itália, a jornalista fala sete idiomas, realçando a importância de conversar com o público, não somente com os atletas ou artistas. Para ela, é importante conseguir transmitir a emoção dos nativos nas coberturas, como estão se sentindo, de qual maneira determinado evento é importante para tais e como o país, como um todo, se sente naquele momento. Além disso, devido as diferentes culturais, a correspondente relata o impacto do machismo no desempenho de sua função.

Bechler ainda cita que, como é um correspondente, trabalha com equipe reduzida (somente ele), enquanto os veículos locais têm muito mais estrutura para trabalhar. Por isso, é importante saber informar com qualidade para ser quem passa a notícia, mas não necessariamente quem dará prosseguimento a essa história.

“Ser correspondente é não se limitar a uma coisa só.”

Felipe Kieling

A trajetória da jornalista francesa Anne-Laure foi completamente diferente de Felipe e Marcelo. Anne era jornalista do L’Équipe, na França. Ela chegou ao seu chefe e pediu que viesse ao Brasil para ser correspondente e de imediato seu chefe riu e disse

“você está louca? O que quer fazer no Brasil?”

Anne-Laure Bonnet

Anne queria cobrir o campeonato brasileiro e contar um pouco da história do país. A jornalista só conseguiu convencer o jornal quando contou que o Santos havia sido campeão brasileiro. Desse modo, ela conseguiu a liberação para vir ao Brasil. Primeiramente, fez a cobertura da Fórmula 1 e das histórias de Ayrton Senna mas, com pouco trabalho, teve que voltar à França.

A correspondente no Brasil

Ainda como correspondente, Anne atuou na Espanha cobrindo a primeira temporada de Ronaldinho Gaúcho no Barcelona. Ela teve marca registrada na Itália cobrindo a Série A para uma televisão local. Uuma das suas últimas atuações como correspondente foi cobrindo o campeonato inglês.

Anne ainda comenta sobre como é ser uma mulher na mídia: foi a primeira mulher a cobrir o campeonato francês e os atletas estranharam sua presença (com exceção dos jogadores do Paris Saint-Germain).

Contudo, os únicos comentários desrespeitosos que recebia não vinham dos jogadores, mas dos seus colegas jornalistas e superiores que impunham regras sobre suas vestimentas para entrar no ar.

Por fim, os jornalistas encerraram falando sobre a importância de dar informações corretas e não a ceder ao sensacionalismo por audiência ou fornecer informações imprecisas para dar furos. Bechler ainda disse que entende quando os jogadores não querem dar entrevistas, porque sabem o quanto é prejudicial ter suas frases tiradas de contexto.


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