Protestos na Colômbia chegam ao 14° dia
Entenda a origem da crise que se espalhou pelo país e seus impactos no Brasil
Por Laura Rossetti – 7° período
As manifestações populares na Colômbia chegam hoje, 12 de maio, ao 14° dia, somando até o momento 42 mortes, 716 civis e 849 policiais feridos, de acordo com a Defensoria Pública, órgão que zela pelos direitos humanos no país. Os protestos começaram no fim do mês de abril, nas cidades de Bogotá – capital do país -, Medelín e Cali, que se tornou o epicentro deles, e onde os choques entre manifestantes e policiais foram mais intensos. Atualmente, milhares de pessoas continuam indo às ruas se manifestar e há diversos focos de protesto ao longo do país.
Origem da crise
As manifestações na Colômbia tiveram início no dia 29 de abril, após Iván Duque, presidente do país desde 2018, propor uma reforma tributária que desagradou grande parte da população. Dentre os pontos criticados, estavam os maiores impostos sobre a renda, produtos e serviços, além da proposta ter sido apresentada em um momento de instabilidade econômica provocada pela pandemia de Covid-19.
O governo, por sua vez, justificou a importância do projeto para a arrecadação do equivalente a 2% do PIB do país, de modo a sustentar os programas sociais criados durante a pandemia. Além disso, a reforma também pretendia institucionalizar a renda básica, criar um fundo de conservação ambiental e melhorar a pontuação da Colômbia nas avaliações de risco de agências internacionais.
Diante dos quatro dias consecutivos de protestos que se seguiram ao anúncio da proposta, o presidente pediu, no dia 2 de maio, que o Congresso tirasse da pauta de votação o projeto de lei da reforma tributária, para que ele fosse revisado e se tornasse “fruto de consenso, de modo a evitar incerteza financeira”. Na ocasião, Duque afirmou ainda que a proposta é uma necessidade, e não um capricho e que sua “verdadeira discussão é poder garantir a continuidade de programas sociais”.
Apesar do presidente ter retirado a reforma da pauta de votações, os colombianos continuaram a protestar por outros motivos de insatisfação. Eles passaram a exigir melhorias nas ações de combate à pobreza e à desigualdade social, assim como nas áreas de saúde e educação do país. Além disso, as mortes ocorridas nos choques com a polícia durante as manifestações também se somaram aos motivos para a continuidade dos protestos.
Violência nas manifestações
A violência presente nos protestos da Colômbia chamou a atenção da comunidade internacional, levando diversas entidades a se manifestarem a respeito. A União Europeia condenou as mortes ocorridas durante os protestos e afirmou ser uma prioridade “parar o aumento da violência e evitar o uso desproporcional de força pelos órgãos de segurança.”
O secretário geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), Luis Almagro, repudiou os casos de “tortura e assassinato cometidos pelas forças da ordem”. Além disso, pediu o fim dos bloqueios em estradas, que impediram o abastecimento de itens essenciais como alimentos e remédios em algumas cidades. A Organização das Nações Unidas (ONU), por sua vez, condenou o “uso excessivo da força” e insistiu que o governo garanta o direito ao protesto pacífico.
Apesar das declarações de preocupação e repúdio de diversas entidades, é improvável que haja alguma intervenção da comunidade internacional na Colômbia. De acordo com Rita Louback, doutora em Relações Internacionais pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas), “a ONU ficaria muito desmoralizada ao intervir na Colômbia, já que ela não interveio na Venezuela, que vive uma crise contínua. O país está com a maior hiperinflação do mundo, causando o êxodo de venezuelanos e o desrespeito sistemático aos direitos humanos, mas a ONU não fez nada para depor o presidente Nicolás Maduro”.
Desdobramentos no Brasil
Ainda segundo Rita, o maior impacto que a crise colombiana causará no Brasil se ela se agravar é em nível social e humanitário, em razão das pessoas que deixarão a Colômbia em busca de melhores condições de vida. “Pode haver mais uma leva de migrantes – assim como o Brasil já tem sido impactado pela migração de venezuelanos – caso a crise na Colômbia não seja resolvida.”, ela alerta.
Já em nível econômico, os impactos serão mais amenos. “Em termos de comércio e negociação entre os dois países, acredito que isso não impacta tanto o Brasil, pois a Colômbia não é um parceiro comercial que tenha tanta influência como a Argentina, por exemplo, com quem o comércio é muito mais amplo”, opina Rita, reforçando que, apesar disso, tudo que acontece em um país afeta, em algum nível, aqueles que fazem fronteira com ele, principalmente em um mundo globalizado em que a economia é interligada.
Por fim, no âmbito político, Louback entende que a situação serve de exemplo sobre como deve ser o comportamento de governos para enfrentar uma crise, principalmente no que diz respeito à contenção da violência em protestos. “Nunca é bom, como primeira medida, colocar as Forças Armadas na rua. É preciso que a polícia consiga primeiro reprimir, de fato, quem está ultrapassando o limite que separa a manifestação legítima do vandalismo. (…) Do ponto de vista político, fica o aviso para o Brasil sobre como o governo não deve conduzir suas instituições para cima de sua população”, recomenda.