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Edição Jornalística – PUC Minas

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Moda como agente político 

Como a indústria atua em diversos cenários sócio-econômicos 

por Milena Franco

A indústria da moda sempre foi grande influenciadora de padrões e comportamentos sociais, mas seu comportamento político nunca esteve em foco. Através das passarelas, histórias são contadas e manifestos são pregados, e o que vestimos é um ato político. Usar a moda para afirmar uma vontade, uma ideia e um posicionamento é um ato que pode passar despercebido até pelo agente, mas ainda é uma forma de contar a história de cada indivíduo. 

Gabrielle Chanel, ainda nos anos 1910, desafiou o conceito de feminilidade ao criar roupas que tinham o intuito de deixar as mulheres confortáveis e aptas a exercerem diversas funções. Nos anos 60, com as manifestações feministas eclodindo no mundo, a moda volta como agente político e transmite seus ideais através do maximalismo e cores vibrantes. Assim seguimos até os anos 90, quando a moda mostrou ao mundo o que é a pluralidade de corpos, com referências de comunidade marginalizadas como os povos negros e LGBT.

Ativismo 

Ananda Martins, estudante de moda e ativista em causas sociais, conta como enxerga essa atuação e sua dualidade na causa. “É importante essa manifestação visual de uma ideologia ou a representação de uma luta. O problema é quando a indústria descaracteriza um movimento, transformando-o em um produto a fim de aumentar seus lucros”, critica. No mês do Orgulho LGBT, a quantidade de produtos com estampas arco-íris nas lojas aumentou consideravelmente, o que desagrada parte da comunidade nas redes sociais. “Militar um mês e nos excluir durante os outros onze não é inclusão. São nossos corpos, nossas vidas”, ela acrescenta.

Manifestantes protestam durante desfile em NY, contra modelo
Gisele Bündchen que assinou com uma grife que usa peles de animais.
Foto: Reprodução Internet

Apesar de sofrer duras críticas por parte da população, o ativismo na indústria da moda agrada a Laura Satler, que luta pelos direitos dos animais. “A extinção do uso de pele de animais foi um enorme passo em direção a um mundo sem crueldade”, conta. Segundo ela, a sociedade precisa de uma grande indústria formadora de opinião para começar a mudar uma cultura.

Polêmicas 

Apesar de seu importante papel social e político, a indústria da moda foi questionada mais uma vez em 2019, quando o modelo Tales Cotta, 26, sofreu um mal súbito em pleno desfile da São Paulo Fashion Week e veio a óbito. Mesmo com o acontecido, o desfile seguiu normalmente, o que acarretou em diversas críticas do público. 

Não é a primeira vez que essa questão é colocada em pauta. Já em 1949, Simone de Beauvoir já criticava como a moda enxergava os indivíduos – em especial, as mulheres. Em “O Segundo Sexo”, livro de sua autoria, ela conta como a moda é utilizada para separar o corpo feminino da transcendência. “A chinesa de pés enfaixados mal pode andar; as garras vermelhas da estrela de Hollywood privam-na de suas mãos; (…) Amolecido pela gordura, ou ao contrário tão diáfano que qualquer esforço lhe é proibido, paralisado por vestidos incômodos e pelos ritos de boa educação, é então que esse corpo se apresenta ao homem como sua coisa”. 

Além disso, a moda é uma das indústrias que mais recebem denúncias acerca de trabalho escravo no mundo. Em 2013, o desabamento do edifício Rana Plaza, em Bangladesh, que alojava fábricas independentes e cerca de 5.000 trabalhadores, fez a comunidade mundial voltar os olhos para as condições precárias em que essas pessoas viviam. Cenário que já não é novidade, visto que as denúncias já rodam há algum tempo, como o caso da Zara, que foi responsabilizada em 2011, quando 15 funcionários foram encontrados em situações de trabalho análogas à escravidão. A Ivy Park, marca de roupas da cantora Beyoncé, também já foi denunciada por condições de trabalho abusivas.

Imagens da coleção Ivy Park – Foto: Ivy Park

Apesar da grande repercussão, tais marcas pouco foram afetadas pela má publicidade, e continuam sendo grandes nomes na indústria da moda mundial. A partir disso, surgem alternativas que buscam apontar substitutos mais conscientes e sustentáveis, com o objetivo promover um boicote a marcas que têm histórico de trabalho escravo e indicar alternativas para cada tipo de produto.

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