Human Rights Watch acusa polícia chilena de ter violado direitos humanos
Relatório publicado pela ONG mostra casos de abusos cometidos pela força nacional do país andino
Por Beatriz Gonçalves, Marcelo Santos e Mari Rodrigues
A ONG Human Rights Watch afirmou em documento publicado na última terça-feira que a polícia chilena cometeu uma série de abusos, inclusive, assassinato, ao usar força para controlar os manifestantes nas ruas do país. No relatório, a ONG diz que abusos e lesões contra centenas de manifestantes ocorreram “em grande medida” por erros estruturais dos Carabineiros (polícia uniformizada do Chile).
As provas colhidas pela ONG mostram preocupantes denúncias tanto de uso excessivo da força contra transeuntes e manifestantes como de abusos durante a detenção de cidadãos, incluindo surras brutais e abusos sexuais. O diretor para as Américas da organização, José Miguel Vivanco, que se reuniu nesta sexta-feira (29) com o presidente Sebastián Piñera, fez um apelo por uma “urgente” reforma da estrutura policial.
“Os abusos durante o período de detenção e as graves lesões sofridas por centenas de manifestantes ocorreram em grande medida devido às falhas estruturais em assegurar uma adequada supervisão e responsabilização dos carabineiros por suas ações, que já ocorriam antes das manifestações do último mês”, aponta a Human Rights Watch no relatório.
Essa não é a primeira vez que os abusos policiais ficam evidentes durante as manifestações que vêm ocorrendo no Chile. O estudante de psicologia, Gustavo Gatica, foi atingido por projéteis de armas não letais usadas pelas forças de segurança que reprimem as manifestações no país, ficando permanentemente cego.
Organizações estimam que mais de 220 pessoas foram atingidas nos olhos. De acordo com o Ministério da Saúde, 16 pessoas perderam a visão de um deles. As autoridades chilenas acreditam que mais de 30 manifestantes ainda podem ficar cegos. Segundo investigação da Universidad de Chile, a munição não letal usada pela polícia chilena contém 20% de borracha e é composta majoritariamente por minerais e metais de alta dureza. O estudo diz que, enquanto uma bala de borracha é capaz de deixar um hematoma, os projéteis usados para conter os manifestantes são capazes de perfurar a pele.
Outro caso que chocou a população do Chile foi o da jovem Carolina Muñoz Manguello, que foi sequestrada pelos Carabineiros e está desaparecida. Amigos e familiares da jovem acusam o governo chileno de não dar informações a respeito de sua situação. A jovem foi vista pela última vez quando os policiais a colocaram dentro do furgão para onde são levados os detidos nas manifestações.