Redes sociais são meios alternativos de combate à violência no Coreu
Facebook e Whatsapp são essenciais no dia a dia dos frequentadores do bairro que se sentem inseguros com o número crescente de roubos no local
Assaltos a mão armada, roubos e furtos se tornaram comuns no Coração Eucarístico. Estudantes, moradores e comerciantes do entorno da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais têm vivido ameaças constantes, com medo dos assaltos registrados no bairro. Devido ao crescimento contínuo da insegurança na região, as redes sociais tornaram-se uma forma dos frequentadores do local buscarem ajuda para evitar situações de risco.
O bairro, localizado na região Noroeste de Belo Horizonte, é considerado de classe média, contendo um número enorme de estudantes – que moram sozinhos, ou em repúblicas universitárias. Nele, está localizada a PUC Minas, com mais de 20 mil alunos dentro do campus. Por conta de tanto movimento e a presença constante de estudantes entrando e saindo da universidade, a onda de assaltos que acontecem no Coração Eucarístico assusta grande parte dos moradores. “A sensação é de insegurança total”, afirma Cassius Marcellus, sócio da AmoCoreu, Associação de Moradores do Coração Eucarístico.
Procurando contornar a situação, moradores, comerciantes e estudantes do bairro começaram a criar grupos em redes sociais, como Whatsapp e Facebook. Em busca de oferecer não só apoio aos que sofreram assaltos ou furtos, os grupos também ajudam a identificar suspeitos e prezam pela troca de informações que possam alertar quem quer que frequente a região sobre atividade suspeitas. Para Cassius Marcellus, as redes sociais são o principal meio alternativo de combate à violência que a Amocoreu tem encontrado. Inclusive, informa que elas estão sempre ativas e disponíveis para quem quiser participar. “Suspeitos já foram identificados, dicas de como evitar situações de risco também. Os grupos são bastante movimentados e auxiliam de forma imprescindível”, completa.
O grupo do Whatsapp Rede de Vizinhos Protegidos conta com inúmeros membros de moradores do bairro. Antigamente, era administrado por um policial militar e depois passou para a Associação de Moradores. No Facebook, a comunidade Coreu Seguro tem cerca de 500 curtidas e tem o intuito de alertar os alunos e moradores para assaltos e atividades suspeitas.
Os grupos também são uma forma de ajuda para alunos que estacionam o carro próximo à universidade. Mesmo durante o dia, muitos casos de roubos têm sido registrados na Rua Dom José Gaspar, perto do Museu de Ciências Naturais da PUC. O estudante Daniel Felipe teve que parar o carro na rua, pois não estava com o cartão do estacionamento. Em um grupo do whatsapp composto por alunos para denunciar possíveis ameaças, alguém o alertou que seu carro estava sendo rodeado por pessoas suspeitas. Quando chegou, um homem tinha acabado de quebrar o vidro do veículo. “Ele me viu chegando e saiu correndo, mas poderia ter levado tudo lá dentro, até mesmo o carro. Nunca mais parei o carro do lado de fora, agora, se não posso parar no estacionamento, vou de uber”, afirma.
Um estudante da PUC Minas, que preferiu não ser identificado, também foi vítima da violência urbana. Após sacar uma quantia considerável de dinheiro no banco, foi assaltado a mão armada na rua Dom Lúcio Antunes. O crime aconteceu plena luz do dia e, segundo o testemunho da vítima, não foi a primeira vez que sofreu com assaltos nas proximidades da universidade.
Para a estudante da PUC Minas, Nathalia Rodrigues, as redes sociais têm ajudado bastante a evitar os assaltos: “Uma vez li que tinha um homem suspeito armado na Av. Ressaca, contornei o caminho e cheguei à universidade segura”, conta. Giovanna Prado, moradora do bairro e estudante da PUC, também acredita que as redes sociais possam ser uma forma de ajudar a comunidade a evitar violência, mas lembra que o principal problema seja a falta de policiamento correto na área.
SEGURANÇA
O tenente Fernando Pantuzzo, do 34° Batalhão da Polícia Militar, responsável pela área do Coração Eucarístico, explica que o bairro é foco de muitos assaltos, pois tem um fluxo muito grande de estudantes e de comércio. “Apesar da dificuldade de patrulhamento da região, devido a insistente ocorrência de furtos e assaltos, a polícia tem tomado as devidas providências.”
Segundo o tenente, a polícia militar tem exercido no bairro três tipos de abordagem: móvel, abordagem em patrulha com repressão; patrulhas preventivas em bicicleta; caminhonete com banner, focando na visibilidade; e viaturas de atendimento comunitário. Apesar disso, estudantes da universidade, como Leticia Gasparotto, tem pedido ajuda nas redes sociais por um maior patrulhamento da PM. Junto com seus colegas, Letícia criou um abaixo assinado e o divulgou na internet com o propósito de pressionar por mais vigilância.
A Amocoreu diz receber pelo menos uma denúncia seja de furto ou assalto por dia na região, enquanto anúncios pelo bairro informam que pelo menos 12 pessoas são assaltadas por dia em torno da área. O vice-diretor da Amocoreu garante que a culpa não é da PM e, sim, da falta de políticas pública: “Nós temos um relacionamento estreito com o 34° Batalhão, eles fazem o possível, contudo, faltam recursos. A violência aumentou muito do ano passado para cá, e muitas vezes eles não têm homens suficientes para cumprir a demanda. A situação está feia não só no bairro, está em toda a cidade”.
Se se sentir ameaçado ou sofrer violência, ligue 190.
Produção e redação: Alexandre Guglielmelli, Bárbara Lima, Bruna Curi, Giulia Staar, Sylvia Amorim e Vitória Costa.